Ministério Público Federal como uma grade de proteção da democracia brasileira

Grace Ladeira Garbaccio, Gonçalo Nicolau Cerqueira Sopas de Melo Bandeira, Igor Rodrigues Costa

Resumo


A Constituição Federal de 1988, no caput do art. 127, confere a guarda do regime democrático brasileiro ao Ministério Público, instituição que conquistou independência, amplo leque de atuação processual e garantias idênticas às do Poder Judiciário, justamente em cumprimento à sua missão constitucional. Desde 2014, é possível visualizar no Brasil manifestações que traziam em si pautas antidemocráticas, em uma clara subversão à Constituição Federal e até mesmo à legislação penal. A literatura tem indicado que governos autoritários chegam ao poder em cenários semelhantes a esse, em um uso constante da máquina democrática para implementem suas pautas autocráticas. O objetivo aqui é explorar de que forma o Ministério Público Federal tem se comportado quanto ao pleno cumprimento do disposto no art. 127, da Constituição, ou seja, o que tem feito a instituição em relação à guarda da democracia e dos valores desse regime ameaçado pela atual conjuntura política do país. Além disso, compreender como os membros da instituição enxergam esse papel constitucional. No que tange à metodologia, a pesquisa é de cunho qualitativo natureza empírica, abordagem qualitativa e delineamento descritivo. A coleta de dados se deu através de entrevistas com roteiros semiestruturados, realizadas com 50 procuradores da República nos três níveis da carreira. A análise dos dados foi realizada com os métodos de análise de conteúdo e process-tracing. Concluiu-se que o MPF tem falhado em proteger a democracia, o que se caracteriza pela falta de ação da instituição.

 


Palavras-chave


Democracia. Ministério Público Federal. Autocracia.

Texto completo:

PDF

Referências


ABRUCIO, Fernando; LOUREIRO, Maria R. “Finanças Públicas, Democracia e Accountability: Debate Teórico e o Caso Brasileiro”. In: Anais do 29º Encontro Anual da ANPOCS, 2005.

ARANTES, Rogério Bastos. Ministério Público e Política no Brasil. São Paulo: EDUC, 329 p. 2002.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BEACH, D; PEDERSEN, R. B. Process-tracing methods: Foundations and guidelines. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2019.

BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia: Uma Defesa das Regras do Jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1967.

COSLOVSKY, Salo. Compliance and Competitiveness: How Prosecutors Enforce Labor and Environmental Laws and Promote Economic Development in Brazil. 187 p. Thesis (Ph. D. in Urban Studies and Planning) – Massachussets Institute of Technology, 187p. 2009.

DA ROS, Luciano. Ministério Público e Sociedade Civil no Brasil Contemporâneo: em busca de um padrão de interação. Revista Política Hoje, v. 18, n. 1, pp. 143-160, 2008.

FALLETI, T. G. Process tracing of extensive and intensive processes. New Political Economy, v. 21, n. 5, 2016. 455-462

FOA, Robert Stefan; MOUNK, Yascha. The Signs of Deconsolidation. Journal of Democracy, Vol. 28, N. 1, January, 2017.

HOCHSTETLER, Kathryn; KECK, Margaret E. Greening Brazil. London: Duke University Press. 2007.

HOLMES, Pablo. Poliarquia inclusiva ou Oligarquias excludentes: Os paradoxos institucionais do Ministério Público na Constituição de 1988. Apresentação de Trabalho. 2018.

KERCHE, Fábio. Ministério Público, Lava Jato e Mãos Limpas: uma abordagem institucional. Lua Nova (Impresso), v. 1, p. 255-286, 2018.LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as Democracias Morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

KERCHE, Fábio. Virtudes e Limites: autonomia e atribuições do Ministério Público no Brasil. São Paulo: EdUSP, 2009.

LIMONGI, FernandoA democracia no Brasil: presidencialismo, coalizão partidária e processo decisório. Novos estudos CEBRAP [online], n. 76, pp. 17-41. 2006.

LINZ, Juan J. The Breakdown of Democratic Regimes: Crisis, Breakdown and Reequilibration. 1. Ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1978.

MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no Processo Civil Brasileiro. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

MCALLISTER, Lesley K. Making Law Matter: Environmental Protection & Legal Institutions in Brazil. Stanford: Stanford University Press, 2008.

MINAYO, Maria C. de S. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

PHARR, Susan et al. A Quarter-Century of Declining Confidence. Journal of Democracy, Vol. 11, N. 2, April, 2000.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e as possíveis rotas de fuga para a crise atual. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019.

SILVA, Cátia A. Pereira. Promotores de Justiça e Novas Formas de Atuação em Defesa de Interesses Sociais e Coletivos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 16, nº 45, p. 127-144, 2001.

SOUZA, Jessé. A Radiografia do Golpe - Entenda como e por que você foi enganado. 1. ed. LeYa, 2016.

VILAÇA, Luiz. Costuras, deslocamentos e bricolagens: A atuação de procuradores do Ministério Público Federal no caso de Belo Monte. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

WEBER, Max. A Política como Vocação. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003.




DOI: https://doi.org/10.18256/2238-0604.2022.v18i1.4782

Apontamentos

  • Não há apontamentos.