Sobre o ativismo judicial nas questões relacionadas ao direito à saúde: mensageiro da boa nova ou lobo em pele de cordeiro / Judicial activism in matters related to the right to healthcare: bearer of good news or wolf in sheep’s clothing

José Sérgio da Silva Cristóvam, Manoella Peixer Cipriani

Resumo


Resumo: Com a omissão dos Poderes Executivo e Legislativo na formulação de políticas públicas adequadas e satisfatórias, a sociedade passou a buscar no Judiciário a efetivação de seus direitos constitucionais, principalmente o direito à saúde. Submisso ao princípio da inafastabilidade judicial e primando pelo respeito e efetivação da constituição, o Poder Judiciário popularizou a concessão de medicamentos e tratamentos médicos por meio de ações judiciais. A justificativa é de que cabe também ao Judiciário a concretização da Constituição e, diante da característica de eficácia plena que possui o direito à saúde, conceder tais medidas quando provocado. Entretanto, essas ações tornaram-se cada vez mais comuns e a consequência foi que as decisões judiciais passaram a interferir expressivamente no orçamento público, provocando alterações significativas nas verbas destinadas as políticas públicas de saúde. Essa é a temática central desse estudo, em especial o debate sobre os limites ao ativismo judicial em matéria de saúde. O método utilizado é o dedutivo e monográfico e a técnica de pesquisa bibliográfica.

 

Palavras-chave: Ativismo Judicial; Controle de Políticas Públicas; Direito à saúde; Estado constitucional de direito; Legitimidade e limites.

 

Abstract: Given the omission of the Executive and Legislative Branches in the formulation of appropriate and satisfactory public policies, society has come to claim through the Judicial System their constitutional rights, especially the right to healthcare. Submitted to the principle of non-obviation of jurisdiction and prioritizing the respect and enforcement of the constitution, the Judiciary popularized the provision of medicine and treatments through lawsuits. The justification is that it is also the Judicial Branch’s role to ensure the Constitution is enforced and, ruled by the immediate effect that the right to healthcare bears, grant these measures when provoked. However, these actions have become increasingly common and the result is that the decisions of the judges began to meaningfully interfere in government budget, significantly changing funds for public healthcare policies. This is the central theme of this study, especially the debate on the limits to the judicial activism in healthcare. The research used the deductive approach, monographic method and technical literature procedure.

 

Keywords: Judicial Activism; Control of public policy; Right to healthcare; Constitutional state of law; Legitimacy and limits.


Palavras-chave


Ativismo Judicial; Controle de Políticas Públicas; Direito à saúde; Estado constitucional de direito; Legitimidade e limites.

Texto completo:

PDF HTML

Referências


APPIO, Eduardo. Controle judicial das políticas públicas no Brasil. Curitiba: Juruá, 2008.

BARROSO, Luís Roberto. A constitucionalização do direito e suas repercussões no âmbito administrativo. In: ARAGÃO, Alexandre dos Santos; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo (Coord.). Direito administrativo e seus novos paradigmas. Belo Horizonte: Fórum, 2008, p. 31-63.

BARROSO, Luís Roberto. Ano do STF: judicialização, ativismo e legitimidade democrática. 2008. Revista Consultor Jurídico, dez. 2008. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2008-dez-22/judicializacao_ativismo_legitimidade_democratica. Acesso em: 10 mai. 2017.

BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº. 9, março/abril/maio, 2007. p. 01-41.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 45/MC – Distrito Federal. Relator: Ministro Celso de Mello. Pesquisa de Jurisprudência, Decisões monocráticas, 29 abril 2004. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp. Acesso em: 10 mai. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Suspensão de Tutela Antecipada nº 175/CE – Distrito Federal. Relator: Ministro Celso de Mello. Pesquisa de Jurisprudência, 17 março 2010. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp. Acesso em: 10 mai. 2017.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2017: ano-base 2016. Brasília: CNJ, 2017. 188 p.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Atos normativos. Recomendação Nº 36 de 12/07/2011.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Tribunal de Justiça consegue reduzir número de ações com demandas de saúde. 23 de abril de 2015. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79186-tribunal-de-justica-consegue-reduzir-numero-de-acoes-com-demandas-de-saude. Acesso em: 10 mai. 2017.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Auditoria Operacional. Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC). Judicialização da saúde. Identificar o perfil, o volume e o impacto das ações judiciais na área da saúde, bem como investigar a atuação do ministério da saúde para mitigar seus efeitos nos orçamentos e no acesso dos usuários à assistência à saúde. Relatório de Auditoria, Ministério da Saúde. Relatório em auditoria TC 009.253/2015-7, Acórdão TC 1787/2017. DOU 24 ago. 2017. Disponível em: https://contas.tcu.gov.br/pesquisaJurisprudencia/#/pesquisa/acordao-completo/925320157.PROC. Acesso em: 14 out. 2017.

BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002.

CAPPELLETTI, Mauro. Processo, ideologias e sociedade. v. 1. Tradução e notas de Elício de Cresci Sobrinho. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 2008.

CARBONELL, Miguel (Coord.). Teoría del neoconstitucionalismo: ensaios escogidos. Madrid: Trotta, 2007.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 31. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

CLÈVE, Clémerson Merlin; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz; TAVARES, André Ramos. E não é pra cumprir a Constituição? Migalhas, 2009. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI84133,21048-E+nao+e+para+cumprir+a+Constituicao. Acesso em: 10 mai. 2017.

COMPARATO, Fábio Konder. Ensaio sobre o juízo de constitucionalidade de políticas públicas. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 35, n. 138, abr./jun. 1998. p. 39-48.

CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração Pública democrática e supremacia do interesse público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais estruturantes. Curitiba: Juruá, 2015.

CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Princípios constitucionais: razoabilidade, proporcionalidade e argumentação jurídica. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2016.

CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; CATARINO, João Ricardo. Políticas públicas, mínimo existencial, reserva do possível e limites orçamentários: uma análise a partir da jurisprudência dos tribunais no Brasil. In: GOMES, Marcus Livio; ALVES, Raquel de Andrade Vieira; ARABI, Abhner Youssif Mota (Coord.). Direito financeiro e jurisdição constitucional. Curitiba: Juruá, 2016. p. 115-144.

DATAFOLHA. Corrupção entre os brasileiros. Instituto de pesquisa Datafolha, Opinião Pública. São Paulo, mai. 2013. Disponível em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/05/02/corrupcao_05102009.pdf. Acesso em: 10 mai. 2017.

DATAFOLHA. Índice de confiança de algumas personalidades. Instituto de pesquisa Datafolha, Opinião Pública. São Paulo, fev. 2016. Disponível em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2016/02/29/indice_de_confianca_personalidades.pdf. Acesso em: 10 mai. 2017.

DIMOULIS, Dimitri. Neoconstitucionalismo e moralismo jurídico. In: SARMENTO, Daniel (Coord.). Filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 213-226.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. A constitucionalização do direito administrativo. XX Semana Jurídica do Curso e Direito UFSC. Auditório do Fórum Norte de llha. Florianópolis, 24 de outubro de 2016.

GRANJA, Cícero Alexandre. O ativismo judicial no Brasil como mecanismo para concretizar direitos fundamentais sociais. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14052. Acesso em: 10 mai. 2017.

GRINOVER, Ada Pellegrini. O controle das políticas públicas pelo Poder Judiciário. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 7, n. 7, 2010.

GRINOVER, Ada Pellegrini; LUCON, Paulo Henrique dos Santos; WATANABE, Kazuo. PL sobre controle jurisdicional de políticas públicas é constitucional. 2015. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-fev-23/pl-controle-jurisdicional-politica-publica-constitucional. Acesso em: 10 mai. 2017.

LÓPEZ, Gerusa e Silva Castro. O processo coletivo e o ativismo judicial sob a ótica do neoprocessualismo: instrumentos a favor da concretização dos direitos fundamentais. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15188&revista_caderno=21. Acesso em: 10 mai. 2017.

LYRIO, Elton. “Decisões judiciais custam R$ 7 bilhões para a saúde do país”: Ministro Ricardo Barros diz que valor é referente a União, Estados e municípios. Gazeta: Online. São Paulo, p. 0-0. 24 ago. 2016. Disponível em: http://www.gazetaonline.com.br/_conteudo/2016/08/noticias/cidades/3969491-decisoes-judiciais-custam-r-7-bilhoes-para-a-saude-do-pais.html. Acesso em: 10 mai. 2017.

MAMELUK, Lethícia Andrade. Consequências da judicialização do direito à saúde. 2015. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,consequencias-da-judicializacao-do-direito-a-saude,37535.html#_ftn5. Acesso em: 10 mai. 2017.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Discricionariedade e controle judicial. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.

MIARELLI, Mayra Marinho; LIMA, Rogério Montai de. Ativismo judicial e a efetivação de direitos no Supremo Tribunal Federal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2012.

NEIVA, Gerivaldo. O normativismo tomou as ruas e engoliu o Direito. 2011. Disponível em: http://www.gerivaldoneiva.com/2011/04/o-normativismo-tomou-as-ruas-e-engoliu.html. Acesso em: 10 mai. 2017.

NUNES, Ana Luisa Tarter; COUTINHO, Nilton Carlos; LAZARI, Rafael José Nadim de. Políticas públicas e ativismo judicial: o dilema entre efetividade e limites de atuação. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 5, Número Especial, 2015. p. 208-222.

PIVETTA, Saulo Lindorfer. Direito fundamental à saúde: regime jurídico, políticas públicas e controle judicial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Palestra de abertura: XIX Congresso Internacional de Direito Constitucional do Instituto Brasiliense de Direito Público. Brasília, 26 de outubro de 2016. Conferência com transmissão online. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=dgIrAdsAC80. Acesso em: 15 mai. 2017.

ROCHA, Eduardo Braga. A justiciabilidade do direito fundamental à saúde no Brasil. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

SARMENTO, Daniel. Constitucionalismo: trajetória histórica e dilemas contemporâneos. In. LEITE, George Salomão; SARLET, Ingo Wolfgang. Jurisdição constitucional, democracia e direitos fundamentais: estudos em homenagem ao Ministro Gilmar Ferreira Mendes. Salvador: JusPodivm, 2012.

SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. In: SARMENTO, Daniel. Filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 113-146.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

STRECK, Lenio Luiz. O Rubicão e os quatro ovos do condor: de novo, o que é ativismo? Revista Eletrônica Consultor Jurídico, São Paulo, jan. 2016. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2016-jan-07/senso-incomum-rubicao-quatro-ovos-condor-ativismo. Acesso em: 10 mai. 2017.




DOI: https://doi.org/10.18256/2238-0604.2017.v13i3.1944

Apontamentos

  • Não há apontamentos.