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Avaliação pós-ocupação aplicada ao espaço público: o caso do Campo Fredolino Chimango da cidade de Passo Fundo/RS

Post-occupation evaluation applied to the public space: the case of Campo Fredolino Chimango in the city of Passo Fundo/RS

Felipe Buller Bertuzzi(1); Fernanda da Cruz Moscarelli(2); Grace Tibério Cardoso(3)

1 Arquiteto e Urbanista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade IMED, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: [email protected]

2 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Planejamento Urbano e Regional.
E-mail:
[email protected]

3 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental, Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade IMED, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail:
grace.cardoso@imed.edu.br

Resumo

O processo de urbanização, consequente do aumento populacional nas cidades, incitou a necessidade de um maior planejamento ao que se refere à infraestrutura urbana. Neste sentido, o período higienista surgiu com o objetivo de inserir áreas livres arborizadas, que auxiliassem na melhoria da ambiência da cidade. Os espaços livres, importantes estruturadores da forma urbana, passaram a oportunizar vitalidade e apoio aos usuários que o usufruem, e auxiliar na qualificação do entorno. A partir deste contexto, o presente trabalho promoveu uma análise no Campo Fredolino Chimango da cidade de Passo Fundo/RS, espaço de lazer focado na prática esportiva. A pesquisa qualitativa aplicada a este estudo vinculou-se à problemática de pós-uso de um equipamento público, baseando-se em dados bibliográficos e observações obtidas in loco, para compreender a organização dos fluxos externos e internos ao local, dos equipamentos e mobiliários urbanos, bem como a qualidade vegetativa no espaço em questão. Levando em consideração esses aspectos, buscou-se promover análises morfológicas aliadas à percepção do usuário acerca do espaço por meio de uma Análise Pós-Ocupação. Como resultados, pôde-se observar a falta de atrativos qualificados no local, a falta de manutenção dos mobiliários do playground e aparelhos de ginástica. Por outro lado, a arborização do espaço é apontada como agradável aos usuários por fornecer sombreamento no perímetro do campo. Após estes diagnósticos, percebeu-se a predominância de uma faixa etária jovem que busca por um espaço de tranquilidade e, ao mesmo tempo, a prática de exercícios físicos. Assim, este estudo inicial voltado ao entendimento do pós-uso do Campo Fredolino Chimango, contribui com a discussão referente ao uso e apropriação de espaços públicos, bem como seu papel estruturador da forma urbana, capaz de promover manifestações dos usuários como participantes ativos da cidade.

Palavras chave: Espaços públicos. Análises morfológicas. Avaliação Pós-Ocupação.

Abstract

The urbanization process, as a result of the population increase in the cities, prompted the need for greater planning with regard to urban infrastructure. In this sense, the hygienist period arose with the objective of inserting free wooded areas, which would help to improve the ambience of the city. The free spaces, important structurers of the urban form, began to provide vitality and support to the users who enjoy it, and help in the qualification of the environment. From this context, the present work promoted an analysis at the Fredolino Chimango Field in the city of Passo Fundo / RS, a leisure area focused on sports practice. The qualitative research applied to this study was linked to the post-use problem of public equipment, based on bibliographic data and observations obtained locally, to understand the organization of external and internal flows to the site, urban equipment and furniture , as well as the vegetative quality in the space in question. Taking into account these aspects, we sought to promote morphological analyzes allied to the user’s perception about space through a Post-Occupancy Analysis. As a result, it could be observed the lack of qualified attractions in the place, the lack of maintenance of the playground furniture and gym equipment. On the other hand, the afforestation of the space is indicated as pleasant to the users for providing shading in the perimeter of the field. After these diagnoses, it was noticed the predominance of a young age group that seeks for a space of tranquility and, at the same time, the practice of physical exercises. Thus, this initial study aimed at the understanding of the post-use of the Fredolino Chimango Field contributes to the discussion regarding the use and appropriation of public spaces, as well as its structuring role of the urban form, capable of promoting user manifestations as active participants of the city.

Keywords: Public spaces. Morphological analyzes. Post-Occupancy Evaluation.

1 Introdução

O final do século XVIII foi marcado pelo surgimento dos primeiros parques urbanos na Inglaterra, resultado dos problemas sanitários e ambientais decorrentes do rápido processo de industrialização e densificação urbana (CHOAY, 1965). Neste contexto, aparece a ideologia higienista, que marca a estrutura das cidades nos séculos XIX e XX (RONCAYOLO, 1989; LECUYER, 1986) pela implantação de áreas abertas e arborizadas, que auxiliassem na melhoria estética e da qualidade de vida urbana (CHOAY, 1965; LECUYER, 1986; RONCAYOLO, 1989).

No Brasil, destacam-se planos, projetos e melhoramentos realizados por Saturnino de Brito de caráter sanitarista e higienista. O sanitarista projetou 28 planos pelo Brasil (OLIVEIRA; SOUZA, 2015), onde associava a regularização do traçado viário, construção de avenidas-parques e avenidas-canal, geralmente arborizadas ao estilo dos boulevares parisienses, à implantação de espaços públicos verdes (OLIVEIRA; SOUZA, 2015). Seu trabalho tinha cunho sanitário, porém sem desconsiderar as questões técnicas e estéticas, importantes para a reorganização urbana pré-metropolização (BRITO, 1964; OLIVEIRA; SOUZA, 2015).

No âmbito brasileiro, o processo de urbanização ganhou força nos anos 1950 a partir do crescimento das atividades econômicas, fazendo com que algumas cidades se tornassem rapidamente metrópoles. A mudança de escala urbana e suas consequências para a qualidade de vida da população (poluição, estresse etc), trouxe como resposta a revalorização dos espaços públicos. Assim, a partir do século os parques urbanos e demais tipologias de espaços livres passaram a ganhar outras funções ao propiciar espaços de encontro e permanência, lazer e esporte. Os espaços livres urbanos são hoje entendidos como importantes elementos estruturadores da forma urbana, garantindo a vitalidade urbana e o apoio aos usuários que o usufruem (MAYMONE, 2009; FRIEDRICH, 2007; ELIAS; PEQUENO, 2007; NIEMEYER, 2015).

Para Silva e Pasqualetto (2013), a arquitetura paisagística no Brasil teve a sua consolidação no século XX, ao incorporar a projeção de espaços livres junto a um caráter nacionalista. Visando a humanização do espaço e a sua importância como função urbana e social, Scocuglia (2009) remete a utilização desses locais como promotores da cidadania e conquistas democráticas (SILVA; PASQUALETTO, 2013; SCOCUGLIA, 2009).

A busca pela qualificação do espaço urbano vem ao encontro com as proposições de Gehl (2014). Para o autor, o atendimento aos apuros de uma sociedade está diretamente relacionado à oportunidade de se propor soluções aos desafios da cidade contemporânea (GEHL, 2014).

Dessa forma, ao criar no espaço urbano um artifício que esteja voltado unicamente para a promoção da melhoria da vida dos usuários, promove-se, portanto, uma “válvula de escape” para a cidade. Possibilita-se, assim, a disseminação desses locais à medida que cresce a densidade populacional (ANDRADE; BRAGA; TOMAZZONI, 2016).

Balza (1998) aponta diversas potencialidades advindas dos espaços públicos. Dentre as funções que esses locais abrangem está a recreação, a sua contribuição como papel de estruturação da forma urbana, a função estética e a contemplação. Como protagonista na morfologia das cidades, seu papel como planejador e disseminador de usos sociais e culturais compreendem questões educacionais e ecológicas em sua desenvoltura. Além disso, Niemeyer (2015) também complementa essa discussão destacando as praças como sendo locais de multifuncionalidade condizentes com diferentes faixas etárias, necessitando de uma reinvenção permanente em suas configurações, a fim de promover uma constante sociabilidade e atratividade (BALZA, 1998; NIEMEYER, 2015).

Com isso, vê-se a necessidade do espaço coletivo proporcionar utilidade aos usuários, fomentando espaços de lazer e contribuindo para locais para a vivência urbana. Sendo assim, o presente trabalho busca investigar e compreender os usos e apropriações do Campo Fredolino Chimango, situado na cidade de Passo Fundo/RS. Ao relacioná-lo com o entorno imediato a partir de diagnósticos morfológicos junto a uma análise pós-ocupação, pode-se qualificar a visão do usuário acerca do espaço, considerando as potencialidades e as possíveis melhorias do ambiente.

2 Processos metodológicos

No entendimento de um espaço, pensado desde a concepção projetual, deve-se possibilitar o desenvolvimento das atividades esperadas pelo usuário. A compreensão do ambiente a partir da avaliação do indivíduo como estruturador do mesmo, permite explicitar resultados decorrentes de sua utilização e, a partir disso, buscar soluções que garantam a manutenção da qualidade ambiental (VILLAROUCO; ANDRETO, 2008).

Desse modo, Moser (1998) relaciona a compreensão das percepções dos usuários à avaliação dos equipamentos inseridos, questionando se a infraestrutura do ambiente satisfaz ou não as suas necessidades. Assim, a utilização de procedimentos provenientes da Avaliação Pós-Ocupação (APO) permitem considerar etapas de apropriação do espaço, como a própria manutenção, o seu uso e operação e a produção proeminente dos usuários que o utilizam (ONO et al., 2018).

Ao analisar os espaços públicos da cidade de Passo Fundo, foram definidos ao longo da disciplina de Morfologia e Projeto em Arquitetura e Urbanismo alguns espaços livres verdes para análises e confrontamentos. Foram abordados aspectos morfológicos do entorno imediato do espaço de lazer, levando em consideração seus usos, fluxos, densidades e infraestrutura.

As áreas de estudo como requisitos para a escolha do espaço livre verde incluem a prévia análise da situação destas áreas verdes e a variabilidade no sistema de categorização dos espaços livres verdes, em estudo desenvolvido por Busato (2016). Em sua dissertação de mestrado, a autora emprega como metodologia a coletas de dados e levantamentos em áreas verdes existentes da cidade de Passo Fundo/RS. Dentre os diferentes locais, utilizou-se para este trabalho o Campo Fredolino Chimango ou Campo do Quartel, como é mais conhecido, classificado como área destinada a esportes (BUSATO, 2016).

Além das analises morfológicas previamente realizadas, foram aplicados questionários aos usuários do espaço, a fim de analisar as relações entre o homem e o ambiente, bem como as suas influências. Assim, a pesquisa qualitativa deste trabalho vinculada à problemática de pós-uso de um equipamento público, baseia-se em dados bibliográficos e, posteriormente, observações obtidas in loco.

Desse modo, a identificação de desempenho do ambiente na visão do usuário a partir de questionários, garante rapidez na busca por resultados, caráter impessoal e maior uniformidade na aplicação, conforme aponta Rheingantz et al. (2009) (MOSER, 1998; RHEINGANTZ et al., 2009).

Para tanto, foram desenvolvidas análises no local de implantação que compreendem a dinâmica e o conforto ambiental no espaço. Em seguida, no mês de setembro de 2018, foram aplicados questionários no Campo Fredolino Chimango da cidade de Passo Fundo/RS. A aplicação ocorreu no turno vespertino de um sábado, horário em que há a maior presença de pessoas usufruindo do espaço. A participação dos entrevistados ocorreu de modo voluntário, sem que houvesse quaisquer critérios para as escolhas. Os questionários aplicados de forma exploratória (ANEXO I) resultaram em 39 respondentes, consequência de uma amostragem aleatória simples.

2.1 Resultados e discussões

Localizada no interior do estado do Rio Grande do Sul (Figura 01), Passo Fundo é considerada uma cidade média com uma população estimada em 199.799 segundo levantamentos do IBGE (2017). O município conta com 32 mini parques de bairro, 8 praças de bairro, 11 praças urbanas, 1 parque urbano, 3 áreas para esporte, 1 espaço de lazer ao ar livre em campus universitário. No total 56 áreas verdes de lazer, incluindo públicas, semi-públicas e semi-privadas.

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Figura 01. Esquema da localização geográfica da área estudada.

Fonte: Autores (2018).

O Campo fez parte da unidade militar de Passo Fundo, onde hoje se destina a prática de esportes como campeonatos de futebol, jogos escolares e a prática de exercícios físicos. Segundo a Prefeitura de Passo Fundo (2018), centenas de usuários usufruem do espaço público todos os dias (PREFEITURA DE PASSO FUNDO, 2018).

Com base num histórico esportivo da área e vislumbrada as necessidades de melhorias do ambiente, a Rádio Uirapuru (2018) noticiou o desenvolvimento de melhorias no seu entorno entre os anos de 2017 e 2018, resultado de medida compensatória de impacto de vizinhança, consequente da implantação de empreendimentos no seu entorno imediato, sem qualquer custo para o município. Dentre os melhoramentos do espaço houve a renovação do piso, aplicando as normativas necessárias para a manutenção da acessibilidade com a aplicação das normas vigentes (RÁDIO UIRAPURU, 2018).

Ao analisar o entorno imediato em relação a sua funcionalidade, é possível observar na Figura 02 a predominância de uso residencial multifamiliar seguido por institucional – devido ao Antigo Quartel do Exército que fazia frente com o espaço de lazer. Em relação às alturas das edificações, têm-se como média 9 metros de elevação do piso, considerando 3 metros de altura por pavimento.

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Figura 02. Análise dos usos e alturas no entorno imediato.

Fonte: Autores (2018).

O espaço de lazer está situado no centro da cidade próximo de equipamentos públicos de grande relevância, como o Antigo Quartel do Exército, Hospital São Vicente de Paulo e clínicas. Devido a sua implantação na malha urbana, sua localização se insere em vias de alto e médio fluxo de veículos ao estar instalado em local de transição entre os bairros Centro e Vera Cruz, conforme constatado a partir de observação realizada no entorno imediato, por volta das 11h30 e das 17:30hs de uma terça-feira (Figura 03). Com isso, pôde-se observar um fluxo de pedestres similar ao de veículos, visto que o fluxo alto conta com parada de ônibus, importante mobiliário que retém uma parcela significativa de pessoas no entorno do espaço em análise.

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Figura 03. Análise de fluxos no entorno imediato.

Fonte: Autores (2018).

A presença de vegetação nas cidades auxilia na melhoria da ambiência urbana, fato que Costa e Colesanti (2011) destacam como consequência de um conforto térmico agradável do espaço, a partir do desenvolvimento de funções sociais, ecológicas e de lazer aos usuários. A Figura 04 comprova a presença de vegetação de diferentes tipologias no espaço de lazer, desde a presença de gramíneas até arborização de grande porte, possibilitando ambiente fresco e sombreado para os visitantes do local. Por outro lado, também se observa a necessidade de uma maior manutenção no espaço, garantindo a qualidade e o embelezamento do local (COSTA; COLESANTI, 2011).

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Figura 04. Análise de conforto térmico no espaço de lazer.

Fonte: Autores (2018).

Ao analisar as configurações do ambiente (Figura 05) é pertinente averiguar os diferentes pontos de encontro possibilitados pela área implantada. Ao longo de todo o ambiente são dispostas áreas para corridas e caminhadas em torno do campo inserido no átrio central da praça, áreas para descanso em locais sombreados em todo o perímetro bem como uma boa distribuição de layout, possibilitando diferentes usos esportivos.

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Figura 05. Análise das configurações do espaço.

Fonte: Autores (2018).

Em relação às circulações internas do ambiente em questão, a presença de circulações não pavimentadas projetadas está diretamente relacionada ao percurso utilizado pelo usuário para a prática de exercícios físicos. Por ser considerado um espaço plano, a acessibilidade interna é facilitada, juntamente com o passeio público que o circunda, permitindo pisos de superfícies táteis e facilitando a locomoção de deficientes visuais (Figura 06).

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Figura 06. Análise das circulações e usos internos.

Fonte: Autores (2018).

Para John e Reis (2010) o mobiliário urbano auxilia diretamente na construção da imagem da cidade ao contribuir positiva ou negativamente na agradabilidade em relação às pessoas que o usufruem. Em alguns casos, a disposição e o design dos diferentes tipos de mobiliário podem contribuir para a poluição visual do espaço livre. No caso do parque em questão, há uma mescla de elementos urbanos antigos carentes de manutenção e mobiliários relativamente novos que também carecem de conservação como garantia de qualidade, como pode ser observado na Figura 07. Um ponto interessante a ser considerado é o fato de se manter alguns equipamentos originários da prática de exercícios militares do Antigo Quartel do Exército até os dias de hoje. Por outro lado, a manutenção ainda encontra-se precária, deixando a possibilidade de se assegurar um contexto histórico dentro de um espaço público. A presença de banheiros públicos e bebedouro também pode assegurar uma condição de permanência mais duradoura ao espaço (JOHH E REIS, 2010).

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Figura 07. Análise do mobiliário e dos elementos construídos.

Fonte: Autores (2018).

Visto que o local é aberto ao público sem cercamento, a segurança a noite é aceitável, visto que conta com uma iluminação relativamente condizente com o ambiente a que se destina (Figura 08). Por outro lado, a presença de um ponto de ônibus em uma das vias de alto fluxo auxilia no aumento da segurança, já que presença de pessoas em um determinado local aumenta a sensação de tranquilidade.

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Figura 08. Análise da segurança e manutenção no espaço público.

Fonte: Autores (2018).

Relacionando a área de estudo com o entorno, é possível observar uma topografia um pouco acentuada, dificultando o acesso ao interior do espaço de lazer, conforme aponta a Figura 09. Devido ao alto fluxo de veículos provindo do centro da cidade em direção a outros bairros, o entorno conta com uma presença forte de diferentes tipos de transporte. Somado a isso, torna-se evidente a alta densidade de veículos estacionados nas redondezas, provindos de cidades da região, estimulados pela presença de estabelecimentos de saúde.

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Figura 09. Análise da relação do espaço com o entorno.

Fonte: Autores (2018).

2.2 Análise e discussão dos resultados observados

No período analisado, o percentual de usuários tinha entre 25 e 29 anos, 61,53% (24) do gênero feminino e 38,47% (15) do gênero masculino (Figura 10).

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Figura 10. Perfil dos usuários entrevistados.

Fonte: Autores (2018).

Ao questionar os entrevistados sobre a frequência de percurso realizado na região de implantação, grande parte dos respondentes relatou a pouca busca pelo espaço de lazer. Segundo eles, a falta de atrativos qualificados no local não estimula a busca constante pelo Campo Fredolino Chimango (Figura 11).

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Figura 11. Periodicidade de percurso.

Fonte: Autores (2018).

Outra variável importante de se observar é o tipo de mobilidade utilizada pelos usuários para acesso ao local (Figura 12). Segundo as entrevistas realizadas, a locomoção por meio de veículo automotor recebeu a maioria das respostas, seguida pelo uso do coletivo urbano.

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Figura 12. Tipo de mobilidade utilizada.

Fonte: Autores (2018).

Após compreender o perfil e a forma de acesso ao espaço, os entrevistados foram questionados sobre a infraestrutura do local com base em diferentes variáveis. De uma escala entre muito insatisfeito e muito satisfeito (Figura 13), 42% dos usuários apontaram como satisfeito a presença de equipamentos de ginástica, playground para as crianças e áreas para descanso no que se diz respeito às áreas de lazer. Da mesma forma, a arborização do espaço também é apontada como agradável aos usuários por fornecer sombreamento no perímetro do campo e assegurar certa tranquilidade, alcançando 73% das respostas.

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Figura 13. Infraestrutura do espaço.

Fonte: Autores (2018).

Levando em consideração a limpeza pública do espaço, a maioria dos entrevistados assegurou satisfação, porém evidenciando a falta de manutenção que acaba gerando aparência de desorganização no espaço. Em relação à iluminação pública, há pontos mal iluminados que contribuem para o afastamento da população em horários noturnos (Figura 14).

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Figura 14. Infraestrutura do espaço.

Fonte: Autores (2018).

Ao observar a Figura 15 que aborda a infraestrutura do entorno, nota-se a grande satisfação dos usuários perante o transporte público, visto que há a presença de um ponto de ônibus em uma das laterais da quadra. Ao compreender o espaço interno de determinado lugar é imprescindível relacionar o entorno imediato às escolhas e/ou análises projetuais. Desse modo, investigar a população acerca do apoio público nas redondezas muitas vezes justifica a utilização do espaço público como ponto de espera ou mesmo de passagem. No entanto, ao observar as análises abaixo, vê-se que a presença de comércios e unidades de saúde no entorno são - em grande parte - indiferentes, apontando que esses recursos urbanos não impactam positiva ou negativamente a estadia no espaço de lazer. Com isso, percebe-se que as pessoas não encaram o local simplesmente como ponto de passagem ou espera, mas sim de práticas esportivas e contemplação da paisagem.

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Figura 15. Infraestrutura do entorno.

Fonte: Autores (2018).

Junto às questões já abordadas anteriormente, os entrevistados tiveram a oportunidade de reconhecer os pontos positivos e aquilo que poderia ser melhorado em todo o espaço livre. Segundo eles, o Campo Fredolino Chimango propicia espaço de relaxamento, onde se pode brincar e praticar exercícios. O ambiente verde também é responsável por auxiliar nesse conforto ao transmitir tranquilidade e sossego aos usuários. A calçada recém revitalizada também foi um ponto positivo evidenciado, visto que ela melhorou o acesso ao local e deu um indicativo de melhoria em todo o espaço.

Por outro lado, os pontos negativos que poderiam ser melhorados incluem a revitalização e o acréscimo de bancos ao longo do espaço livre a fim de garantir mais pontos de descanso aos visitantes. A segurança e a iluminação também poderiam ser reforçadas, visto que não se vê vigilância nas proximidades e a falta de iluminação aumenta a sensação de insegurança. Outra questão bastante apontada é a necessidade de melhoria em brinquedos do playground e aparelhos de ginástica, que atualmente podem oferecer riscos àqueles que os utilizam. O acesso aos sanitários também foi considerado um problema, uma vez que se encontra bloqueado em determinados momentos, dificultando o acesso aos usuários.

Para tanto, os entrevistados foram indagados acerca de duas perguntas referente às sensações de conforto e segurança, onde se pôde atribuir notas de 1 a 10 classificadas de péssima (nota 1) a excelente (nota 10). Baseando-se nas respostas obtidas, atribui-se uma média das notas que pode ser observada na Figura 16. Como consequência desses pontos levantados, a média de sensação de conforto e de segurança no espaço demonstram certa incerteza no espaço como um todo.

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Figura 16. Média obtida a partir das sensações acerca do espaço.

Fonte: Autores (2018).

3 Considerações finais

A busca por análises e percepções dos usuários em espaços públicos possibilita a identificação de soluções para a melhoria do espaço, consequente da intersecção entre o usuário e o meio urbano com base em suas expectativas. Desse modo, buscou-se a partir desse trabalho identificar, com base na vivência dos usuários, precariedades que poderiam ser melhoradas a fim de garantir a permanência dos usuários em um ambiente de qualidade.

Assim, além da compreensão de usos, fluxos e aspirações, percebeu-se a predominância de uma faixa etária jovem que busca por um espaço de tranquilidade e que propicie a prática de exercícios físicos. Além disso, evidenciou-se também uma rotatividade de usuários ao longo dos dias, visto que a maioria dos entrevistados apontaram visitas esporádicas ao Campo Fredolino Chimango.

Com base nessas considerações, o estudo inicial voltado ao entendimento do pós-uso em um ambiente urbano, visa contribuir para futuros estudos voltados à compreensão contínua do espaço. Assim, o mapeamento desses locais permite resgatar o seu objetivo principal como estruturador da forma urbana, oportunizando manifestações dos usuários como participantes ativos da cidade ao permitir que as mesmas usufruam de um espaço de qualidade.

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Anexo 1

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Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 7, n. 2, p. 141-160, Julho-Dezembro, 2018 - ISSN 2318-1109

[Recebido: 07 janeiro 2019; Aceito: 28 março 2019]

DOI: https://doi.org/10.18256/2318-1109.2018.v7i2.3146

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ISSN 2318-1109

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