“Saiu para a Entrega”: Prazer e Sofrimento no Trabalho de Entregadores por Aplicativos

Marcos Vinícius Martins Maciel, Luis Eduardo Brandão Paiva, Rafaela de Almeida Araújo, Tereza Cristina Batista de Lima

Resumen


Esta pesquisa teve como objetivo investigar as causas de prazer e sofrimento de entregadores de aplicativos. O estudo destaca-se por fomentar a compreensão do contexto de trabalho que dá origem às principais causas de adoecimento físico e mental dos entregadores por aplicativos, fornecendo subsídios para a psicodinâmica do trabalho, pela construção e análise da demanda e pelo atendimento diante do aumento desse grupo de trabalhadores. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada mediante entrevistas semiestruturadas com 11 entregadores por aplicativos. O roteiro de entrevistas foi inspirado na Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho e na Escala de Avaliação dos danos relacionados ao trabalho ambas pertencentes ao inventário sobre trabalho e riscos de adoecimento, elaborado por Mendes e Ferreira (2007). Os resultados apontam que o trabalho proporciona prazer e sofrimento, embora sobressaiam situações em que os entregadores exponham sentimentos de sofrimentos associados à atividade que realizam. As principais motivações são sobrevivência e ausência de burocracia para iniciar a atividade, ainda que não ocorram direitos e garantias trabalhistas. Os danos causados pelo trabalho estão relacionados ao alto custo emocional, falta de motivação, vontade de desistir da atividade, solidão e dores no corpo e na cabeça. Este estudo contribui para o campo científico do prazer e sofrimento do trabalho, enfatizando que existe a necessidade de políticas públicas para uma formalização nessa categoria de trabalho para garantir as suas necessidades básicas.


Palabras clave


Prazer; Sofrimento.;Trabalhadores por Aplicativos.

Texto completo:

PDF (Português (Brasil))

Referencias


Abílio, L. C. (2019). Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado. Psicoperspectivas, 18(3), 41-51, http://dx.doi.org/10.5027/psicoperspectivas-vol18-issue3-fulltext-1674.

Abílio, L. C. (2020). Uberização: a era do trabalhador just-in-time? 1. Estudos Avançados, 34(98), 111-126, https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3498.008.

Abílio, L. C. (2021). Uberização e Juventude Periférica: Desigualdades, autogerenciamento e novas formas de controle do trabalho. Novos Estudos CEBRAP, 39, 579-597, https://doi.org/10.25091/s01013300202000030008.

Akkermans, J., Brenninkmeijer, V., Huibers, M., & Blonk, R. W. (2013). Competencies for the contemporary career: Development and preliminary validation of the Career Competencies Questionnaire. Journal of Career Development, 40(3), 245-267, https://doi.org/10.1177/0894845312467501.

Alves, A., Bagno, L. I. M., & Gonçalves, N. (2020). Entregas mediadas por aplicativos e o mito do empreendedor de si mesmo na pandemia do coronavírus. Revista de Direito da UNB, 4(02), 85-116.

Andersen, K. G., Rambaut, A., Lipkin, W. I., Holmes, E. C., & Garry, R. F. (2020). The proximal origin of SARS-CoV-2. Nature Medicine, 26(4), 450-452, https://doi.org/10.1038/s41591-020-0820-9.

Areosa, J. (2019). O mundo do trabalho em (re) análise: um olhar a partir da psicodinâmica do trabalho. Laboreal, 15(2), https://doi.org/10.4000/laboreal.15504.

Ashford, S. J., Caza, B. B., & Reid, E. M. (2018). From surviving to thriving in the gig economy: A research agenda for individuals in the new world of work. Research in Organizational Behavior, 38, 23-41, https://doi.org/10.1016/j.riob.2018.11.001.

Atkinson, R., & Flint, J. (2001). Accessing hidden and hard-to-reach populations: Snowball research strategies. Social Research Update, 33(1), 1-4.

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa: Portugal.

Barratt, T., Goods, C., & Veen, A. (2020). ‘I’m my own boss...’: Active intermediation and ‘entrepreneurial’ worker agency in the Australian gig-economy. Environment and Planning A: Economy and Space, 52(8), 1643-1661, https://doi.org/10.1177/0308518X20914346.

Bottini, F. F., Paiva, K. C., & Gomes, R. C. (2021). Resiliência individual, prazer e sofrimento no trabalho e vínculos organizacionais: reflexões e perspectivas de pesquisas para o setor público. Cadernos EBAPE.BR, 19, 45-57, https://doi.org/10.1590/1679-395120200091.

Carneiro, C. M. S., Silva, G. C., & Ramos, L. D. F. C. (2017). Relações sustentáveis de trabalho: diálogos entre o Direito e a Psicodinâmica do Trabalho. São Paulo: Ltr.

Castro, M. F. (2021). A pandemia e os entregadores por aplicativo. Revista Espaço Acadêmico, 20, 70-80.

Dejours, C. (1992). A loucura do trabalho. São Paulo: Oboré.

Dejours, C. (2004). Subjetividade, trabalho e ação. Production, 14(3), 27-34, https://doi.org/10.1590/S0103-65132004000300004.

Dejours, C. (2013). A sublimação, entre sofrimento e prazer no trabalho. Revista Portuguesa de Psicanálise, 9-28.

Desgranges, N. (2020). Os algoritmos do empreendedorismo: A plataformização do trabalho de entregadores de iFood. Pensata: Revista dos Alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNIFESP, 9(2), https://doi.org/10.34024/pensata.2020.v9.11136.

Dutra, R. Q., & Sepúlveda, G. (2020). O trabalho nos aplicativos de entrega de mercadorias: a desconstrução do sujeito de direitos trabalhistas. Revista Estudos Institucionais, 6(3), 1230-1252, https://doi.org/10.21783/rei.v6i3.494.

Ferreira, M. C., & Mendes, A. M. (2001). “Só de pensar em vir trabalhar, já fico de mau humor”: atividade de atendimento ao público e prazer-sofrimento no trabalho. Estudos de Psicologia, 6(1), 93-104, https://doi.org/10.1590/S1413-294X2001000100010.

Fleming, P. (2017). The human capital hoax: Work, debt and insecurity in the era of Uberization. Organization Studies, 38(5), 691-709, https://doi.org/10.1177/0170840616686129.

Fonseca, E. C., Zeitoune, R. C. G., Sousa, K. H. J. F., Portela, L. F., & Soares, M. R. D. C. (2020). Danos à saúde dos trabalhadores de enfermagem de salas de vacinação. Acta Paulista de Enfermagem, 33, https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0147.

Fonseca, L. S. F. (2017). Fronteiras da precarização do trabalho: uberização e o trabalho on-demand. In XXXI congresso ALAS.

Fontes, V. (2017). Capitalismo em tempos de uberização: do emprego ao trabalho. Marx e o Marxismo-Revista do NIEP-Marx, 5(8), 45-67.

Franco, D. S., & Ferraz, D. L. D. S. (2019). Uberização do trabalho e acumulação capitalista. Cadernos EBAPE.BR, 17(SPE), 844-856, https://doi.org/10.1590/1679-395176936.

Friedman, G. (2014). Workers without employers: shadow corporations and the rise of the gig economy. Review of Keynesian Economics, 2(2), 171-188, https://doi.org/10.4337/roke.2014.02.03.

Giongo, C. R., Monteiro, J. K., & Sobrosa, G. M. R. (2017). Suinocultor: vivências de prazer e sofrimento no trabalho precário. Psicologia & Sociedade, 29, https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29147648.

Glaser, B. G., & Strauss, A. L. (2017). The discovery of grounded theory: Strategies for qualitative research. Routledge.

Glavin, P. (2020). Multiple jobs? The prevalence, intensity and determinants of multiple jobholding in Canada. The Economic and Labour Relations Review, 31(3), 383-402, https://doi.org/10.1177/103530462093339.

Mark, K. P., So, J. C., Chan, V. C., Luk, G. W., & Ho, W. T. (2018, December). Surviving in the Gig Economy: Change of STEM Students’ Perceptions on the Generic Skills for the Workplace. In 2018 IEEE International Conference on Teaching, Assessment, and Learning for Engineering, 1085-1090. http://dx.doi.org/10.1109/TALE.2018.8615414.

Medeiros, F. S. B., & Campos, S. A. P. (2020). As Relações de Gênero, os Estereótipos e a Violência Simbólica no Mercado de Trabalho. Revista de Administração IMED, 10(1), 127-144, http://dx.doi.org/10.18256/2237-7956.2020.v10i1.3496.

Mendes, A. M., & Ferreira, M. C. (2007). Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento–ITRA: instrumento auxiliar de diagnóstico de indicadores críticos no trabalho. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 111-26.

Mendes, A. M., & Araújo, L. K. R. (2012). Clínica psicodinâmica do trabalho: o sujeito em ação. Curitiba: Juruá.

Mendes, B. M. (2010). Violência no trabalho: Perspectivas da psicodinâmica, da ergonomia e da sociologia clínica. Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Moretto, M. R. G., & Padilha, V. (2020). Quem manda também sofre: um estudo sobre o sofrimento de gestores no trabalho. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 23(2), 157-174, https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v23i2p157-174.

Prestes, F. C., Beck, C. L. C., Magnago, T. S. B. D. S., & Silva, R. M. D. (2015). Indicadores de prazer e sofrimento no trabalho da enfermagem em um serviço de hemodiálise. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 49(3), 465-472, https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000300015.

Reis, V., Gelsleichter, M., & Alves, E. (2017). Narrativas juvenis: dilemas, tensões e desafios em torno das novas configurações do mundo do trabalho. Revista Educação e Emancipação, 1, 41-63, https://doi.org/10.18764/2358-4319.v10n3p41-63.

Rosenfield, C. L., & Almeida, M. L. D. (2014). Contratualização das relações de trabalho: embaralhando conceitos canônicos da sociologia do trabalho. Política e Trabalho: Revista de Ciências Sociais, 41, 249-276.

Sartori, S. D., & Souza, E. M. D. (2018). Entre sofrimento e prazer: vivências no trabalho de intervenção em crises suicidas. Revista Eletrônica de Administração, 24(2), 106-134, https://doi.org/10.1590/1413-2311.203.78656.

Schuster, M., S. & Dias, V. V. (2012). Plano de carreira nos sistemas de gestão público e privado: uma discussão a luz das teorias motivacionais. Revista de Administração IMED, 2(1), 1-17, http://dx.doi.org/10.18256/2237-7956/raimed.v2n1p1-17.

Sousa, I. A. D. C., & Mendonça, H. (2009). Justiça organizacional, prazer e sofrimento no trabalho: análise de um modelo mediacional. Revista de Administração Mackenzie, 10(4), 57-74, https://doi.org/10.1590/S1678-69712009000400004.

Torres, T. P. R., Paiva, K. C. M., Bottini, F. F., & Pereira, J. R. (2020). Prazer e sofrimento para jovens trabalhadores de Belo Horizonte. Revista de Administração Faces, 19(2), 8-26.




DOI: https://doi.org/10.18256/2237-7956.2022.v12i2.4722

Enlaces refback

  • No hay ningún enlace refback.


Bookmark and Share


Copyright (c) 2023 Marcos Vinícius Martins Maciel, Luis Eduardo Brandão Paiva, Rafaela de Almeida Araújo, Tereza Cristina Batista de Lima

Revista de Administração IMED (RAIMED)               ISSN: 2237-7956                Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/Atitus)

Atitus Educação - Business School – www.imed.edu.br – Rua Senador Pinheiro, 304 – Bairro Vila Rodrigues – 99070-220 – Passo Fundo/RS – Brasil Tel.: +55 51 4004-4818

Licença Creative Commons

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.