Paisagens da produção: memórias em disputa no território metropolitano de Campinas

Maria Cristina da Silva Schicchi

Resumo


Estudando as cidades médias e pequenas da Região Metropolitana de Campinas (RMC), no território definido indistintamente como periferia, revelaram-se contornos específicos: o periurbano e o suburbano, onde novas e tradicionais práticas sociais se entrelaçam. Os resultados da pesquisa confirmaram a hipótese de que a compreensão de conjuntos de cidades alinhadas por vetores de expansão metropolitana permitiria novas perspectivas para a discussão dos “patrimônios dispersos” da região. A heterogeneidade do território formado por cada vetor tornou-se uma característica importante - tema comum a outras regiões metropolitanas do país - com aspectos compartilhados (história, referências culturais, festas e festivais), conformações espaciais similares (subcentralidades, vazios, condomínios fechados, assentamentos, bairros rurais), formação sociocultural semelhante (imigrantes, comunidade negra, migrantes, refugiados, sitiantes) e uma mesma lógica de inter-relação induzida por eixos históricos de estruturação do território, como rios, ferrovias e caminhos. Partindo de uma base teórico-metodológica própria, procurou-se mapear as inter-relações socioculturais e suas projeções no território da RMC, com especial atenção às paisagens formadas a partir dos sucessivos ciclos socioeconômicos regionais vinculados à implementação dos eixos ferroviários. O entendimento dos patrimônios dispersos no território como parte dessas “paisagens menores” formadas sob a mesma base histórico-cultural, exigiu uma nova interpretação do conjunto de remanescentes como paisagens históricas da produção. Este artigo apresenta os resultados do estudo de dois dos vetores de conformação do território da RMC, com recorte temporal a partir do final do século XIX, quando se conformaram os primeiros núcleos de fixação de operários, com a criação dos núcleos coloniais. O método adotado foi o histórico-crítico, com pesquisa bibliográfica e documental; empírico, com estudos de campo e cruzamento de dados (mapeamentos, gráficos, fotografias, legislação) e entrevistas com agentes, gestores e representantes de grupos locais. Concluiu-se que é necessária uma revisão das atuais unidades de gestão territorial e dos instrumentos de preservação existentes, em geral, voltados para a proteção de contextos homogêneos e contíguos, para que seja possível elaborar políticas culturais e patrimoniais em nível regional.


Palavras-chave


identidade; periferia histórica; território metropolitano; paisagem da produção; Campinas

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DOI: https://doi.org/10.18256/2318-1109.2023.v12i2.4951

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