Adoção Inter-Racial e a Espera na Adoção
É Possível ser (In)Diferente?
DOI:
https://doi.org/10.18256/2175-5027.2024.v16i2.5109Palavras-chave:
Adoção, Relações familiares, Racismo, Relações raciais.Resumo
A adoção inter-racial, especialmente de crianças negras por pessoas brancas, configura-se como realidade frequente no Brasil, embora ainda pouco problematizada nos processos de habilitação e espera. Este estudo buscou analisar as narrativas de pessoas brancas habilitadas à adoção, acerca das relações raciais durante a espera no Sistema Nacional de Adoção (SNA), visto que permanece escassa a literatura nacional sobre o tema. Trata-se de um estudo de caso coletivo, conduzido por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas entre 2017 e 2019 em Porto Alegre/RS. Foram incluídos 5 participantes que se declaravam indiferentes quanto à raça da criança pretendida e que aprofundaram as questões raciais nas entrevistas. A análise temática reflexiva dos dados produziu dois eixos temáticos: I. A minimização da raça na adoção e II. A construção do letramento racial na adoção. Os resultados evidenciam a necessidade de que pretendentes brancos problematizem sua branquitude, exercitem o letramento racial crítico e pratiquem a socialização racial. Já as equipes psicossociais e o SNA, deveriam incorporar o letramento racial como critério para a habilitação para adoção inter-racial. Tais estratégias podem fortalecer vínculos familiares, favorecer ambientes protetivos e contribuir para o desenvolvimento saudável de crianças negras em famílias adotivas inter-raciais.
Downloads
Referências
Barros, N. de C., Silva, P. S. da, Silva, L. G. da, & Frizzo, G. B. (2023). “Nenhum pardo vai ser igual a gente, né?”: A espera pela adoção e as famílias inter-raciais. UFRGS. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/258311
Bento, M. A. S. (2003). Psicologia social do racismo: Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Vozes. https://repositorio.usp.br/item/002946628
Braun, V., & Clarke, V. (2022). Conceptual and design thinking for thematic analysis. Qualitative Psychology, 9(1), 3–26. https://doi.org/10.1037/qup0000196
Brasil. (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
Carneiro, S. (2023). Dispositivo de racialidade: A construção do outro como não ser como fundamento do ser. Zahar.
Cecílio, M. S., & Scorsolini-Comin, F. (2018). Avaliação de candidatos pretendentes no processo de habilitação para adoção: Revisão da literatura. Psico-USF, 23(3), 497–511. https://doi.org/10.1590/1413-82712018230309
Conselho Nacional de Justiça. (2025). Painel Analytics: Painel de acompanhamento do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. CNJ. https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-f74b5b5b31a2&sheet=4f1d9435-00b1-4c8c-beb7-8ed9dba4e45a&opt=currsel&select=clearall
Costa, E. S., & Schucman, L. V. (2022). Identidades, identificações e classificações raciais no Brasil: O pardo e as ações afirmativas. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 22(2). https://doi.org/10.12957/epp.2022.68631
Espíndola, S. P. (2019). Filho, qual é a sua raça?: Racismo institucional através do cadastro nacional de adoção. Fiocruz. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/37675
Eurico, M. C. (2018). Preta, preta, pretinha: O racismo institucional no cotidiano de crianças e adolescentes negras(os) acolhidos(as). PUC-SP. https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/21267/2/M%C3%A1rcia%20Campos%20Eurico.pdf
Ferreira, J. R. de S. (2021). Raça, gênero e geração como determinantes para a escolha de crianças adotáveis: Uma análise sobre adoção tardia em torno dos dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). UFRN. https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/36512
Fonseca, C. (2019). (Re)descobrindo a adoção no Brasil trinta anos depois do Estatuto da Criança e do Adolescente. Runa, 40(2), 17–38. https://doi.org/10.34096/runa.v40i2.7110
Fonseca, C., & Scalco, L. (2023). Maternidades interditadas: A (in)justiça reprodutiva em circunstâncias de radical desigualdade. Revista del Museo de Antropología, 16(2), 317–326. https://doi.org/10.31048/1852.4826.v16.n2.38900
Frizzo, G. B., Silva, P. S., Resmini, G. F., Schwochow, M. S., Leão, L. C. S., Levandowski, D. C., Lopes, R. C. S., Vieira, M. L., & Chaves, V. P. (2016). Transição para a parentalidade adotiva: pesquisa e intervenção. Projeto de Pesquisa não publicado.
Kilomba, G. (2019). Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano (1ª ed.). Cobogó.
Lino, M. V. (2020). Crias de um (não) lugar: Histórias de crianças e adolescentes devolvidos por famílias substitutas (1ª ed.). Editora CRV. https://doi.org/10.24824/978659902382.8
Lino, M. V., & Marafon, G. (2023). Reflexões sobre o impacto do racismo nas adoções inter-raciais. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 16(Edição Especial). https://abpnrevista.org.br/site/article/view/1613
Moreira-Primo, U. S., & França, D. X. de. (2024). Socialização étnico-racial parental: Contribuições para o bem-estar e desenvolvimento de crianças e jovens. Psicologia Argumento, 42(116), Artigo 116. https://doi.org/10.7213/psicolargum.42.116.AO15
Núcleo de Pesquisa e Intervenção em Família com Bebês e Crianças (NUFABE) (2016a). Questionário sobre a adoção. Instrumento não publicado.
Núcleo de Pesquisa e Intervenção em Família com Bebês e Crianças (NUFABE) (2016b). Entrevista sobre as expectativas e os sentimentos na adoção. Instrumento não publicado.
Paula, L. R., Rodrigues, L., & Rodrigues, H. B. C. (Orgs.). (2025). As cores do acolhimento institucional: Racializando as medidas protetivas de crianças e adolescentes [Recurso eletrônico]. UFRGS. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/293713
Robson, C. (2002). Real world research: A resource for social scientists and practitioner-researchers (2nd ed.). Blackwell.
Rufino, S. (2002). Uma realidade fragmentada: A adoção inter-racial e os desafios da formação de uma família multiracial. Revista Katálysis, 5(1). https://www.redalyc.org/pdf/1796/179618286008.pdf
Schucman, L. V. (2014). Sim, nós somos racistas: Estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia & Sociedade, 26(1), 83–94. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000100010
Schucman, L. V. (2018). Famílias inter-raciais: Tensões entre cor e amor. EDUFBA.
Silva, L. G., Alves, M. C., & Frizzo, G. B. (2025). Adoção inter-racial: Do letramento de mães e pais brancos à socialização de crianças negras. In L. R. Paula, L. Rodrigues, & H. B. C. Rodrigues (Orgs.), As cores do acolhimento institucional: Racializando as medidas protetivas de crianças e adolescentes [Recurso eletrônico]. UFRGS. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/293713
Silva, L. G. da, Noguera, R., & Machado, P. S. (2022). Narrativas e estratégias infanto-juvenis frente ao racismo: Compreensões a partir do Sopapinho Poético In: Conselho Federal de Psicologia. Psicologia brasileira na luta antirracista: Prêmio Profissional Virgínia Bicudo (Vol. 2). - Brasília: CFP, 2O22. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2022/11/VOLUME-2-luta-antirracista-1801-web-1.pdf
Silva, L. G. da. (2021). “Salve, salve, abre a roda, somos ERÊS, queremos passar”: Crianças negras na kizomba do Sopapinho – contribuições afroperspectivistas à psicologia (Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Recuperado de https://lume.ufrgs.br/handle/10183/229983
Silva, P. S. da, Schwochow, M. S., Resmini, G. de F., & Frizzo, G. B. (2021). Critérios para habilitação à adoção segundo técnicos judiciários. Psico-USF, 25(4), 603–612. https://doi.org/10.1590/1413/82712020250401
Teixeira, D. (2016). Discriminação racial é sinônimo de maus-tratos: A importância do ECA para a proteção das crianças negras. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. https://livredetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2021/07/Proj-PETROBRAS-web_compressed.pdf
Twine, F. W. (2004). A white side of Black Britain: The concept of racial literacy. Ethnic and Racial Studies, 27(6), 913–937. https://doi.org/10.1080/0141987042000268512
Yin, R. K. (2001). Estudo de caso: Planejamento e métodos (2ª ed.). Bookman.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Liziane Guedes da Silva, Karin Juliana Daffinyn da Silva, Adolfo Pizzinato, Giana Bittencourt Frizzo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a Revista. Em virtude da aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais, conforme a licença Creative Commons abaixo.
A RPI exime-se de quaisquer responsabilidades civis ou legais em relação aos conteúdos publicados, ficando estes a cargo dos respectivos autores.

Revista de Psicologia da IMED (RPI), da Atitus é licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho de https://seer.atitus.edu.br/index.php/revistapsico