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As tecnologias da informação e comunicação
na (des)construção das relações humanas contemporâneas:
implicações do uso do aplicativo
Tinder

Rafael Santos de Oliveira

Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor-adjunto
no Departamento de Direito e no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal
de Santa Maria – UFSM. Líder do CEPEDI, Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet
(Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq).
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Bruno Mello Corrêa de Barros

Mestrando em Direito - Linha Direitos Emergentes na Sociedade Global. Direitos na Sociedade em Rede
pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Graduado em Direito pelo Centro Universitário
Franciscano - UNIFRA. Membro do Grupo de Pesquisa CEPEDI, Centro de Estudos e Pesquisas em Direito
e Internet, inscrito no CNPq, com atuação na linha de pesquisa Ativismo Digital e as Novas Mídias: Desafios
e Oportunidades da Cidadania Global. Membro associado da Academia Nacional de Estudos Transnacionais – ANET.
Membro do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito - CONPEDI.
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Gil Monteiro Goulart

Mestrando em Direito - Linha Direitos Emergentes na Sociedade Global. Direitos na Sociedade em Rede
pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário
Franciscano – UNIFRA. Membro do Grupo de Pesquisa CEPEDI, Centro de Estudos e Pesquisas em Direito
e Internet, inscrito no CNPq, com atuação na linha de pesquisa Ativismo Digital e as Novas Mídias:
Desafios e Oportunidades da Cidadania Global.
E-mail: <
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Resumo

O artigo trata da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação, em especial do aplicativo digital Tinder, e sua relação com a mudança de comportamento dos indivíduos e das relações humanas. Analisa as implicações do uso de ferramentas tecnológicas na busca e na construção de relações e interações sociais. O problema que norteou a pesquisa foi o seguinte: quais as implicações e os riscos advindos de uma mudança comportamental pautada na construção de relações sociais virtuais? O artigo desdobra-se em três eixos basilares: o primeiro deles destinado a tratar da utilização das TIC e dos aplicativos; o segundo ponto corresponde às dinâmicas postas na malha social, cujas prerrogativas baseiam-se nas relações fluidas e efêmeras, na criação de estereótipos, bem como na busca pela satisfação instantânea. Já o terceiro item tem a função precípua de tratar a respeito do estudo de caso, ou seja, concernente ao “Tinder” e às suas demandas, as implicações decorrentes e sua funcionalidade como ferramenta tecnológica de construção de relações sociais. O método de abordagem utilizado foi o dedutivo, cuja ancoragem se dá nos meios informacionais e tecnológicos para fomento e formação de relações sociais, também se utilizou o método de procedimento monográfico ou de estudo de caso, baseando a análise em aplicativo específico, aporte legal e doutrinário.

Palavras-Chave: Tinder. Relações virtuais. Tecnologias da informação e comunicação.

1 Introdução

O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), sobretudo a Internet, expandiu-se para os mais variados meios. Atualmente, são verdadeiras ferramentas para angariar notícias, entretenimento, e até mesmo para fomentar o acesso a informações prestadas pela Administração Pública, bem como para a prática da democracia e cidadania eletrônicas. As TIC formam uma ampla rede de comunicação entre os usuários, transpondo barreiras territoriais, espaciais e temporais, além de fixar verdadeiras relações com os mais diversos sujeitos em escala global.

Em consonância com essa perspectiva, e não só em respeito à introdução das tecnologias informacionais na malha social contemporânea, mas também acerca do paradigma das transformações das relações sociais por meio eletrônico, é que o presente artigo se desenvolve, no intuito primordial da investigação dos aplicativos digitais e das suas potencialidades nas interações humanas.

A proposta reflexiva do ensaio baseia-se no impacto e na emergência dos aplicativos digitais e dos meios tecnológicos na construção de relações sociais e humanas, de modo a visualizar se efetivamente tais implicações se perfectibilizam em meio real, transpondo o meio virtual. Em face disso, o problema de pesquisa que emerge nesse contexto é quanto às implicações jurídicas e sociais de uma mudança comportamental pautada na construção de relações virtuais.

O trabalho propõe verificar a atuação das TIC e dos aplicativos digitais, sobretudo o aplicativo Tinder, e sua relação com a mudança de comportamento dos indivíduos e das relações humanas, agora perpassadas por ferramentas tecnológicas e informacionais. Em perfeita compatibilidade com a dinâmica globalizada propiciada pelas tecnologias informacionais, o presente ensaio traz em seu primeiro eixo uma análise a respeito da utilização de tais instrumentos no dia a dia e a eficiência desses mecanismos para as mais variadas funções. No segundo eixo, discute-se acerca das transformações nas dinâmicas sociais provocadas pela constante inserção de mecanismos eletrônicos e tecnológicos, modificando comportamentos e estruturas como as relações de amizade e de afeto estabelecidas entre os pares. Estão presentes nesse tópico análises sobre a mudança e a fragilidade das relações humanas, a formação e deterioração de vínculos interpessoais, a busca da satisfação imediata e fluidez de comportamentos postos na malha social e digital. O terceiro e último ponto analisa o aplicativo social Tinder. Pretende-se, à luz desse meio tecnológico, permear o que toca à sua definição, a destinação específica para qual foi criado, bem como as implicações decorrentes da sua utilização na seara social. Busca-se questionar nesse eixo a vinculação dessa plataforma digital e a mudança estrutural nos comportamentos dos indivíduos no estabelecimento de suas relações.

Para a consecução do ensaio, optou-se pela utilização do método de abordagem dedutivo, ancorando a pesquisa na questão concernente à sociedade informacional e suas perspectivas tecnológicas e a virtualidade. Como método de procedimento, utilizou-se o monográfico ou de estudo de casos, selecionando especificamente a plataforma Tinder para análise, juntamente com aporte doutrinário e legal.

2 A utilização das tecnologias da informação e comunicação como ferramentas da sociedade informacional

A sociedade se apodera de instrumentos proporcionados pela tecnologia para facilitar e otimizar a vida de um modo geral. Nesse sentido, se dá o estabelecimento de relações através da utilização de dispositivos móveis e de aplicativos. As plataformas tornam-se agentes intermediadores, incluindo-se como atores nas relações interpessoais e figurando como mola propulsora para eventuais interações.

A tecnologia pressupõe uma transposição no modo pelo qual os indivíduos passam a efetivar seus diálogos sociais pelo ambiente eletrônico, desafiando a localização territorial e postulando a realidade virtual em seu cotidiano. Cardoso, ao analisar essa nova configuração social pelo âmbito eletrônico refere que:

Uma estrutura social com base em redes é assim um sistema altamente dinâmico, aberto, suscetível de inovação e com reduzidas ameaças ao seu equilíbrio. As redes são instrumentos apropriados para a economia, trabalho, política e organização social da nossa época.1

A interligação pessoal através do ambiente em rede é o cenário em que se propaga a implementação de aplicativos para o estabelecimento e formação de relações humanas, contemplando as transformações, que têm a informação e o conhecimento como forças de poder e ativos econômicos na sociedade informacional.2 Adota-se, desse modo, um modelo de interação baseado no uso de aplicativos que confortam, de certa forma, a auto-estima do usuário, pois, na plataforma, é fomentado um perfil que pode, por sua vez, estimular o interesse de outro indivíduo, também conectado. Tal estímulo pode se dar pelo estereótipo por ele externado, de modo a desencadear o interesse fazendo o usuário entrar em contato visando à sociabilidade por meio eletrônico.

De acordo com Castells “[...] o papel mais importante da Internet na estruturação das relações pessoais é sua contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseado no individualismo3“. Por intermédio dessa premissa, denota-se que o estabelecimento das interações sociais dos usuários é resultado de um novo modelo instaurado e característico. O autor ainda acrescenta que “o individualismo em rede é um padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre é antes que indivíduos montam suas redes, on-line e off-line, com base em seus interesses, valores, afinidades e projetos”4.

Nesse sentido, o distanciamento físico ou geográfico entre as pessoas não impede o estreitamento das relações no intento social, por intermédio do âmbito virtual, podendo a interação ocorrer sem tempo e sem fluxo pré-estabelecido, pois essa regulação estará sendo balizada pelo próprio usuário interessado. Ainda sobre essa prática na sociedade contemporânea, que se utiliza das novas tecnologias, Cardoso preconiza a respeito dessa configuração social:

A velocidade das transformações científicas, técnicas, econômicas, culturais e políticas força-nos a nos redefinirmos e a darmos a conhecer aos demais as nossas novas identidade, finalidade e competências [...]. As ligações, as relações de interdependência e a complexidade geral da vida social estão a aumentar. Se as nossas relações se limitassem a um pequeno círculo de agentes bem conhecidos, não teríamos de envidar tantos esforços para comunicar.5

A tecnologia, por meio do espaço virtual, promove discussões e desdobramentos pelos quais a conectividade dos usuários incorre em um sistema de livre transmissão e troca de informações, que promovem a construção de relacionamentos baseados em interesses afins. Castells contextualiza sobre a prática de comunicação nas redes afirmando que “[...] a internet fornece plataforma de comunicação organizacional para traduzir a cultura da liberdade na prática da autonomia. Isso porque a tecnologia incorpora a cultura da liberdade [...]”6

A redefinição de fronteiras e a inserção de novas práticas para estabelecimento das relações e comunicações entre os internautas demonstram a mudança sofrida pela sociedade. A formatação das sociedades e o avanço da tecnologia provocam uma inovação na organização dos cenários e uma evolução nas relações interpessoais.

Em que pese todas as circunstâncias perpassadas pelos meios eletrônicos e suas multidimensionalidades, bem como potencialidades, em se tratando de liberdade de expressão e como canal de comunicação e interação, cumpre referir acerca das novas dinâmicas sociais, ou seja, àquelas marcadas pela introdução das TIC nas relações humanas. É sobre tal ponto que se passa a destacar.

3 As TIC e as novas dinâmicas sociais: o estabelecimento e as transformações das relações humanas por meio eletrônico

O panorama contemporâneo foi marcado pelo desenvolvimento e pela especialização das tecnologias, especialmente as informacionais, que se traduzem naquelas que tem por base a internet e a interlocução dos sujeitos, calcados em um sistema comunicacional-informacional. Nesse sentido, aponta-se que as relações estabelecidas entre as pessoas também foram afetadas de modo que elas passaram a se relacionar tendo, por vezes, o suporte técnico ofertado por tais instrumentos eletrônicos como subsídio.

A atual realidade de espetacularização da vida e de contato digital permanente, onde os sujeitos superexpõem os fatos cotidianos que marcam sua existência, compõe-se devido à nova feição posta, onde a informação passou a guiar os acontecimentos e onde as formas e as dinâmicas de interação perpassam pelas estruturas de comunicação e informação, perpetradas pela internet. Mattelart explicita desde logo que “as redes de comunicação em tempo real estão configurando o modo de organização do planeta”7, ou seja, os novos complexos organizacionais estão compondo uma nova forma de interlocução entre os sujeitos.

A utilização de ferramentas de cunho tecnológico tinha por função precípua auxiliar os indivíduos na consecução das mais variadas atividades e nos mais diversos âmbitos, no campo profissional. Por exemplo, reduzir distâncias geográficas através de sistemas de videoconferência, dentre outras gamas de potencialidades. Também operou no sentido de explicitar informações, proporcionar ao internauta variadas opções de entretenimento, prestação de serviço e informação. Na medida da expansão das tecnologias, da venda de computadores, e do acesso dos indivíduos a tais instrumentos, inúmeros outros serviços passaram a ser realizados por meio virtual, levando as empresas e a sociedade civil a construir uma verdadeira convergência digital. Em relação a isso, Rangel declara:

A convergência digital exige que todos os tipos de comunicação sejam processados por computadores, o que não apenas aumenta a confiabilidade e a velocidade de transmissão, como estimula a multiplicação dos computadores no mundo. Apoiada no crescimento exponencial do poder de processamento e na consequente queda de custo dos computadores é a convergência digital que viabilizará a construção, para o bem e para o mal, de uma efetiva sociedade da informação.8

A partir desse novo prisma, as tecnologias informacionais passaram a desempenhar papel determinante na sociedade. Instrumentos de monitoramento e de participação social e democrática foram possíveis por meio da Internet, como o acesso às informações da administração do Estado e de outras esferas de caráter público e coletivo, a criação de canais de interlocução, possibilidades quanto a ciberativismo, cibercidadania, formas de controle social do poder público e outras balizas de dominação e regência.

Esse paradigma composto por meio virtual veio por reduzir a comunicação horizontal perpetrada pelos meios de massa de comunicação, podendo o internauta realizar suas próprias construções, gerar, editar e difundir informações, revelando, dessa forma, o caráter imperioso da informação na sociedade. Para Camargo, “a comunicação é parte integrante da existência humana e a informação é destinada a proteger e a promover os valores humanos”.9

Sob esse aspecto, Fernandes Neto revela que “a importância jurídica da comunicação evidencia-se a partir do momento em que a normatização deixa de ter o indivíduo como único centro de preocupação e desloca-se para o social, para o reflexo da conduta individual sobre o tecido social”.10 Percebe-se, então, que a virtualidade e os seus meios estão cada vez mais imbuídos na seara social, permitindo aos indivíduos conectar-se de modo constante, gerando o fenômeno do online, onde os mesmos estão continuamente interligados em redes de interlocução, troca de mensagens, vídeos, fotos, áudios e outras formas de mídia.

Ainda sobre a ideia, Ascensão aponta que “a internet permitiu a experimentação de um tipo de comunicação de âmbito mundial. Apresentou-se com um caráter atrativo, que induziu os destinatários a nela se empenharem e adestrarem [...]”11. Com o aperfeiçoamento das técnicas informacionais e o desenvolvimento de plataformas e aplicativos, a construção de relações sociais passou a dar-se por meios eletrônicos.

Tendo as ferramentas e aplicativos móveis de interação, como, por exemplo, as redes sociais, foi possível o estabelecimento de conexões entre os indivíduos, que, por afinidade ou objetivos comuns, constroem laços. Redes sociais podem ser definidas como redes de comunicação marcadas por dois elementos centrais, os atores sociais (que podem ser pessoas, instituições, organizações, grupos) e as conexões, que são as interações sociais desenvolvidas nesse meio. Rede, segundo Raquel Recuero, é “uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir de conexões estabelecidas entre os diversos atores”.12

Nessa perspectiva, blogs, Twitter, Facebook, Instagram são espaços que são considerados por Recuero como “lugares de fala construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade”13. Contudo, há de observar a finitude e o grau de profundidade dos vínculos construídos através desses meios, visto a efemeridade com que se edificam, se são consumidos e destruídos. Bauman aponta que tais laços não passam de “vínculos sem consequências, ou seja, laços breves que não se vinculam verdadeiramente”.14

Na visão do referido autor, sob a nova dinâmica do horizonte social, aduz:

Na modernidade líquida existe uma tendência ao surgimento de novos tipos de comunidade em substituição àqueles de conteúdo ético, sendo, portanto, denominados de comunidades estéticas, por serem voláteis, passageiras, formadas em torno de eventos ou espetáculos que muito raramente se fundirão em interesse de um grupo verdadeiro, pois servem apenas para demonstrar um interesse individual a respeito de alguma coisa.15

Corroborando com tais premissas, é possível encontrar teóricos pessimistas em torno das relações propiciadas pelos meios virtuais, Canclini, por exemplo, afirma que “a comunicação digital, especialmente a de caráter móvel por meio dos celulares, proporciona ao mesmo tempo, interação interna e deslocalização, conhecimento e novas dúvidas”16. Ou seja, pressupõem que as dinâmicas realizadas sob esse enfoque são de natureza efêmera, calcada em pressupostos que dominam a sociedade, tais como o imediatismo, a satisfação e o prazer instantâneos. Bauman revela que “é assim numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro”.17

Os laços afetuosos desenvolvidos nesse contexto constroem-se na mesma proporção e rapidez com que são desfeitos, sem levar em conta a gama de conexões estabelecidas. Bauman já referia que “da mesma forma que a maioria das inovações tecnológicas recentes, encurtam a distância entre o impulso e sua satisfação faz com que a passagem de um a outro seja mais rápida e menos trabalhosa”18. O grau de interação é exponencial, contudo, após a dinâmica posta, torna-se passageiro e sem profundidade.

Ademais, as forças que conduzem o estabelecimento dessas relações são múltiplas, centradas em diversas modalidades. O interesse despertado pode dar-se em torno da mesma atividade desempenhada, da profissão, objetivos comuns de vida, afinidade, simpatia ou mesmo fundadas em torno de questões estéticas ou ligadas a padrões de comportamento ou estereótipos. Entretanto, apesar dos interesses comuns, alguns usuários das redes sociais recorrem às relações online para buscar um contato superficial, que visa a satisfação de objetivos imediatos, prejudicando a permanência de vínculos interpessoais. No concernente a tais relações, sua criação, duração e finitude, Bauman refere:

Semear, cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo insuportavelmente prolongado para os padrões de uma cultura que tem pavor em postergar, preferindo a “satisfação instantânea”). O desejo precisa de tempo para germinar, crescer e amadurecer. Numa época em que o “longo prazo” é cada vez mais curto, ainda assim a velocidade de maturação do desejo resiste de modo obstinado à aceleração.19

Dessa forma, vivencia-se na contemporaneidade o paradigma da aceleração, onde os indivíduos passam a ser submetidos a uma nova lógica, uma aceleração social que submete os sujeitos a um regime temporal em “grande parte invisível, despolitizado, indiscutido, subteorizado e desarticulado”20, conforme Rosa. A lógica da aceleração pode ser facilmente percebida como um elemento constitutivo da sociedade, como “uma estrutura da sociedade”21, continua a autora, que reorienta a gestão social e tem compromissos com o reforço da lógica da produção pela produção, a eficiência e cujo ponto central é a essência neoliberal. Essa nova ordem afeta as relações humanas, tendo agora a Internet como suporte fático para o estabelecimento de relações e aproximação dos indivíduos.

Como já exposto, a satisfação instantânea e o imediatismo são as moedas basilares do que se vincula nos meios a que os indivíduos estão inseridos. Percebe-se a orientação cada vez mais robusta no sentido de articular para conseguir que determinado objetivo seja conquistado ou gere efeitos de forma sublime e instantânea, o que revela o desajuste quanto a postergar determinada ação ou desejo humano. Essa tendência, a partir do desenvolvimento das tecnologias informacionais também foi levada para o âmbito virtual, onde os sujeitos explicitam suas vontades, reconhecem pontos em comum e necessitam que seus desejos sejam acatados e satisfeitos de forma imediata.

Segundo Bauman:

Em sua versão ortodoxa, o desejo precisa ser cultivado e preparado, o que envolve cuidados demorados, a árdua barganha com consequências inevitáveis, algumas escolhas difíceis e concessões dolorosas. Mas, pior que tudo, impõe que se retarde a satisfação, sem dúvida i sacrifício mais detestado em nosso mundo de velocidade e aceleração.22

Compreende-se que a virtualidade alterou de modo profundo a forma de comunicar-se e informar-se. O aperfeiçoamento das técnicas, dos meios eletrônicos, da virtualidade e suas ferramentas modificaram de forma exponencial as relações humanas, de modo que uma nova dinâmica foi implantada na malha coletiva, permitindo aos indivíduos estabelecerem relações entre si, criando relacionamentos interpessoais que ultrapassam o simples contato. Nesse paradigma, Canclini sustenta que “as redes virtuais alteram os modos de ver e ler, as formas de reunir-se, falar e escrever, de amar e saber-se amado à distância, ou, talvez, imaginá-lo.”23 Porém, com a mesma amplitude com que tais relações são constituídas as mesmas se desfazem.

As novas tecnologias digitais possuem efeito catalisador, ou seja, têm poder para captar um grande número de indivíduos e conectá-los, formando uma miríade de sujeitos. Todavia, a durabilidade e a profundidade dos laços que são estabelecidos encontram ambiente raso, cujas bases são insuficientes para garantir uma durabilidade na interação, descortinando incertezas, rigidez de contato ou falta de afinidade. As relações de amizade, profissionais ou afetivas constituídas a partir de plataformas digitais e da virtualidade são criadas na mesma velocidade com que são desfeitas ou ignoradas. Bauman refere que “o reconhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do ‘amor’ como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração.”24

O mundo virtual e a informação em fluxo despontam novas dinâmicas perpetradas pelos meios digitais e tecnológicos, e essas ambivalências da sociedade informacional ficam evidentes com a observância da ampla gama de relacionamentos desenvolvidos a partir de tais meios. Visualizando o desenvolvimento desse meio, o crescimento voluptuoso das redes sociais e do alcance que exercem é devido ao investimento das grandes empresas tecnológicas, que aprimoram os equipamentos já existentes e desenvolvem novas técnicas e aplicativos. É o caso do aplicativo social e de relacionamento denominado “Tinder”, cujo objeto é aproximar pessoas e promover encontros e relações entre os sujeitos. É sobre tal tema que se passa a discutir em tópico a seguir.

4 As plataformas digitais e as relações no âmbito virtual: uma análise a partir do aplicativo Tinder

A articulação em rede proporcionada e promovida pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação, especialmente a Internet, que apontam para uma nova diretriz, uma nova dimensão na relação entre pessoas, famílias, amigos, empresas e Nações. A virtualidade passou a denotar preocupação essencial das grandes empresas, corporações do setor e companhias, “a necessidade de reestruturação do capitalismo impulsiona a adoção, a diversificação da mídia e o desenvolvimento das tecnologias da informação e da sua articulação em rede”25, conforme Castells. O panorama contemporâneo está marcado por um fenômeno de convergência digital, onde os comportamentos dos sujeitos e das empresas transformam-se a partir do estabelecimento de novas técnicas de comunicação, informação e relacionamento humano26, a partir das concepções de Jenkins.

Vivencia-se uma era de transição midiática e de transformação tecnológica, que passam atacar diversos âmbitos, a seara social e de relacionamentos humanos, no concernente à imbricada construção e à edificação de relações e interlocuções entre os pares. O alvo das empresas e grandes conglomerados do setor tecnológico passou a ser o investimento robusto capital financeiro no desenvolvimento de aplicativos27 e ferramentas virtuais e eletrônicas que facilitem a vida do indivíduo e auxiliem-no em diversas modalidades de atividades, o estabelecimento de contatos e a aproximação de pessoas foi uma delas. Nessa trajetória que o aplicativo social Tinder foi criado, com a preocupação principal de conectar pessoas e fazê-las estabelecer vínculos relacionais. Assim, antes de dar seguimento ao presente eixo, se faz necessário uma incursão, uma breve alusão para algumas precisões conceituais acerca desse aplicativo.

Nessa direção, reporta-se que o aplicativo, com mais de 10 milhões de usuários no Brasil,28 teve origem nos Estados Unidos, tendo sido lançado em outubro de 2012 pelos americanos Justin Matten e Sean Rad, disponibilizado em aparelhos celulares e dispositivos móveis com tecnologia IOS e Android.29 Do mesmo modo, cita-se a descrição fornecida pelo Google Play, onde a apresentação do aplicativo Tinder consiste em:

Em um jeito divertido de se conectar com pessoas novas e interessantes próximas de você. Passe as fotos para a direita para curtir ou para esquerda para passar. Se alguém curtir de volta vocês combinam! Converse com sua combinação ou tire uma foto para compartilhar um momento para com todas as suas combinações de uma vez. É uma nova maneira de se expressar e compartilhar com seus amigos.30

Dessa forma, tal instrumento eletrônico a partir de uma conexão com outro dispositivo móvel – Facebook –, em um sistema de convergência, permite a visualização de determinados perfis em uma espécie de “menu social”. A partir desse menu, cada indivíduo pode promover o delineamento de sua figura, delimitar padrões, definir gênero de busca, distância geográfica, expor determinadas frases e escolher conforme sua vontade àquele que mais chamar atenção ou despertar conveniência. Assim, havendo compatibilidade e interesse de ambos é que o evento e as relações irão realizar-se, ou seja, a própria interlocução entre os sujeitos será iniciada a partir de então.

É notável que, a partir da inauguração dessa espécie de configuração social eletrônica, muitas outras corporações e empresas do setor interessaram-se pelo serviço e passaram também a desempenhá-lo, criando plataformas digitais variáveis e de toda monta31. O que se vislumbra com o presente cenário é o impacto das tecnologias informacionais no contexto da sociedade moderna, a qual passou a ser informacional, guiando os acontecimentos e gerenciando âmbitos de suma importância.

Sob tal circunstância, Bauman explicita:

Dentre todos os fatores técnicos da mobilidade, um papel particularmente importante foi desempenhado pelo transporte da informação – o tipo de comunicação que não envolve o movimento de corpos físicos ou só o faz secundária e marginalmente. Desenvolveram-se de forma consistente meios técnicos que também permitiram à informação viajar independente dos seus portadores físicos – e independente também dos objetos sobre os quais informava: meios que libertaram os ‘significantes’ do controle dos ‘significados’.32

Por esse caminho, os indivíduos que se utilizam das tecnologias informacionais passaram a desempenhar comportamentos cuja preocupação é estabelecer liames com seus pares, ou seja, utilizam-se de tais aplicativos ofertados para relacionar-se entre si, confeccionando relações interpessoais de amizade, de cunho profissional, acadêmico e, sobretudo, com intento amoroso. O aplicativo tem observância no estabelecimento a priori ou posteriori de relacionamentos sérios, como o namoro. Essa é, até então, a lógica perpassada na confecção dessa ferramenta comunicacional-relacional.

As distâncias espaciais, geográficas e temporais não constituem mais óbices ao estabelecimento desse prisma relacional, no aplicativo em comento, por exemplo, pode-se delimitar a distância geográfica, antes de efetuar a busca e de estipular o perfil e o gênero que se deseja. Nessa ótica, Bauman aduz que “no mundo que habitamos, a distância não parece importar muito. Às vezes parece que só existe para ser anulada, como se o espaço não passasse de um convite contínuo a ser desrespeitado, refugado, negado. O espaço deixou de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo para conquistá-lo.”33

Compreendendo a emergência dessa nova realidade, é possível reiterar a busca da satisfação instantânea, em que a efemeridade é o ponto central dos relacionamentos provenientes dessa marca tecnológica, visto que sua condição está baseada em um singular contato, que não se desenvolve, por vezes, em ambiente externo ou, que, após um primeiro encontro, não perfectibiliza forças motoras para dar seguimento.

Corroborando com esse entendimento, Bauman reforça:

Das muitas tendências, inclinações e propensões ‘‘naturais’’ dos seres humanos, o desejo sexual foi e continua sendo a mais óbvia, indubitável e inconstetavelmente social. Ele se estende na direção de outro ser humano, exige sua presença e ser esforça para transformá-la em união. Ele anseia por convívio. Torna qualquer ser humano – ainda que realizado e, sob todos os outros aspectos, auto-suficiente – incompleto e insatisfeito, a menos que esteja unido a outro.34

Assim, em várias situações, o sujeito se utiliza desses instrumentos eletrônicos sem o intento principal de estabelecer relacionamento sério, com as bases fundadas no respeito, cumplicidade, comprometimento, lealdade, amor e outras facetas, pelo contrário, utiliza com intuito de conseguir companhia ou uma solução rápida e eficaz para suas carências e desejos. Visualiza-se, dessa forma, uma crise nos valores sociais, onde a efemeridade e o consumo de pessoas por pessoas torna-se recorrente. Os indivíduos tornam-se mercadorias e moedas de troca próprias, reforçando um sistema que, gradativamente, adquire mais interlocutores e interessados.

As tecnologias informacionais e suas ferramentas estão tão imbuídas no arranjo social que as implicações geradas são de exponencial relevância, tanto que, no caso do aplicativo Tinder, o Ministério da Saúde promoveu e desenvolveu uma campanha de conscientização contra a AIDS por meio desse instrumento, por meio de ações conscientizadoras e a explanação dos métodos de prevenção.

Sobre a ação desenvolvida pelo Governo Federal, através do Ministério da Saúde, cumpre explicitar o teor a partir de matéria veiculada no Portal Olhar Digital:

Com a proximidade do Carnaval, o Ministério da Saúde anunciou na última terça-feira, 10, uma nova campanha para a prevenção contra o vírus da Aids. A diferença é que desta vez o órgão recorreu a meios tecnológicos, mais precisamente o aplicativo de relacionamentos Tinder, para tentar conscientizar as pessoas do perigo do sexo sem proteção. A campanha inclui cinco perfis falsos no aplicativo, três do sexo masculino e dois do feminino. Os primeiros testes aconteceram em bares e casas noturnas, com mais de 2 mil interações com o público. Ao conseguir uma combinação, o perfil falso do Ministério da Saúde perguntava indiscretamente ao possível “parceiro” uma única pergunta: “E aí, curte sexo sem camisinha?”. Dependendo da resposta, o perfil fake elogiava a consciência de quem preferia se proteger ou orientava aqueles que não viam problemas. O governo também pensa em expandir a campanha para outros festivais além do Carnaval, mas a empresa responsável pelo aplicativo não parece ter gostado da ideia até o momento. A vice-presidente Rosette Pambakian afirma que os perfis falsos estão sendo sumariamente deletados. “Os perfis violam o termo de serviços. Você não tem autorização para anunciar no Tinder”, afirma ela. A medida, de qualquer forma, vem em momento delicado em relação ao vírus HIV, com os índices de infecção aumentando em 33% entre a população jovem, com idade entre 15 e 24 anos. O Tinder é popular nessa faixa etária, então parece uma boa plataforma para divulgar a ideia.35

Sendo assim, a virtualidade é tida como fonte proveniente para o estabelecimento de relações sociais e interações de toda espécie. Exemplo marcante é a preocupação do Ministério da Saúde com a disseminação de doenças, especialmente a AIDS, que pode ser transmitida nos encontros proporcionados pelo Tinder. A partir dos relacionamentos que se iniciam em meios virtuais e deslocam-se para a realidade fática, esse tipo de comportamento está sendo visualizado com especial atenção pelas autoridades, demonstrando a imprescindibilidade dos meios informacionais na contemporaneidade.

Sob esse espectro Bauman traduz:

A desintegração social é tanto uma condição quanto um resultado da nova técnica do poder, que tem como ferramentas principais o desengajamento e a arte da fuga. Se essas tendências entrelaçadas se desenvolvessem sem freios, homens e mulheres seriam reformulados no padrão da toupeira eletrônica, essa orgulhosa invenção dos tempos pioneiros da cibernética imediatamente aclamada como arauto do porvir: um plugue em castores atarantados na desesperada busca de tomadas a que se ligar.36

Tendo em vista as conexões feitas pelo aplicativo e as consequências advindas da modernidade técnica, é possível relatar a expressiva introdução e impacto das tecnologias e aplicativos digitais no meio social, de forma a alterar substancialmente o modo com que os indivíduos informam-se, comunicam-se e, especialmente, estabelecem e constroem vínculos, relacionamentos e interações. Com efeito, Cremades já afirmava que “a Internet não é um meio de comunicação, mas uma plataforma de comunicação de pessoas”37. De mesma robustez, é o conceito erigido por Bernardes ao apontar que “a Internet é um dos mais variados meios tecnológicos, uma vez que permite a comunicação entre usuários de todo mundo pela interconexão de redes.”38

A edificação de relações humanas à vista disso é contundentemente transformada, os meios informacionais desempenham novas tarefas, reduzindo espaços geográficos e temporais, aproximando pessoas, facilitando diálogos, modificando os modos de comportamento dos indivíduos, que, agora, buscam os aplicativos digitais móveis para a construção de vínculos e para erigir relações sociais por meio da Internet. Nesse enfoque, o hábito de interagir por meio das plataformas eletrônicas impôs um novo ritmo, uma demanda de urgência, de se envolver rápido, mas sem profundidade, uma nova era, da descartabilidade e da aceitação. Contudo, esse novo paradigma marcado pelos dispositivos sociais móveis não substitui as relações em âmbito externo. O contato pessoal continua tendo papel exponencial e de destaque nas relações humanas, dando suporte ao encaminhamento do modus operandi social, reiterando as condutas e dando prosseguimento à prospecção da humanidade. Todavia, nessa égide não há de se ignorar o impacto das redes sociais e demais instrumentos tecnológicos no comportamento humano.

5 Conclusão

A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação, especialmente a Internet, configurada em uma plataforma de mobilização comunicacional-relacional, desperta e provoca diferentes impactos nos meios sociais, estabelecendo novos padrões e espectros para as atividades desenvolvidas. As novas condições técnicas, propiciadas pelos meios informacionais, instigam novos parâmetros, permitindo a ampliação do potencial comunicativo, estabelecendo uma nova lógica, em que a informação centra-se no fluxo dos acontecimentos, permeando os eventos que conectam empresas, Estados, sociedade civil e os indivíduos propriamente.

Nesse sentido que o presente artigo convergiu, acerca do impacto das TIC no meio social, particularmente no concernente à transformação do comportamento e o estabelecimento de relações humanas. O foco de investigação do presente artigo percorreu também no sentido de delinear as potencialidades dos aplicativos digitais nas interações humanas, além do escopo principal, a respeito da plataforma digital móvel Tinder, cujo objetivo primordial é conectar e aproximar pessoas, edificando vínculos e interações sociais.

O primeiro eixo prestou-se ao deslinde de questões referentes aos aplicativos digitais e às TIC como ferramentas abarcadas pela sociedade informacional. Nesse contexto, exasperou quanto à articulação em rede desenvolvida a partir dos novos meios técnicos, renegando a concepção e distanciamentos logísticos e temporais, vez que o novo paradigma informacional refuta os meandros de tempo e espaço, exercendo a conectividade em tempo real, aproximando pessoas e lugares.

No segundo eixo, descortinou-se a respeito das Tecnologias da Informação e Comunicação e das novas dinâmicas sociais desenvolvidas pela indução dos aplicativos móveis, de modo a referir que a virtualidade passou a ser uma ágora para o ajuste de relações entre os sujeitos. Ficou evidenciado o panorama da sociedade informacional, de modo que, atualmente, os indivíduos têm a possibilidade de produzir, editar e difundir informações a partir do seu próprio prisma, efetivando por meio das redes sociais, a plenitude da liberdade de expressão, baliza amplamente solidificada em âmbito Constitucional.

Também se verificou o fenômeno do online, ou seja, a simbiose que relaciona os sujeitos e os meios eletrônicos, tornando-os permanentemente conectados. Da mesma forma, o paradigma da aceleração social, que prescreve a construção rápida e de curta duração de relações e relacionamentos, de modo que perpassados por meio social/eletrônico os indivíduos são guiados pelos ímpetos de satisfação imediata de seus desejos, sem maior grau de comprometimento ou profundidade nas relações interpessoais formadas.

Assim, restou esclarecido que os aplicativos digitais contribuem efetivamente para a edificação de relações entre os indivíduos na sociedade contemporânea. Contudo, a passagem do âmbito virtual para a seara real depende de uma conduta proativa e mútua dos indivíduos, baseada em concepções pessoais, levando em consideração os ajustes promovidos entre os pares a partir das convicções, identificação e afinidades absorvidos inicialmente por meio da plataforma eletrônica.

A terceira seção do estudo destinou-se à análise do aplicativo social Tinder, reverberando sua dimensão como instrumento que tem o condão de aproximar pessoas e promover o imbricamento de relações entre os indivíduos, apesar dos potenciais riscos que esse contato virtual pode acarretar em algumas circunstâncias. Nessa perspectiva, entende-se sua dinâmica como um sistema que tem como propósito a convergência de dispositivos, devido ao seu entrelaçamento entre as plataformas digitais, como o Facebook e a plataforma em comento, gerando um canal de interação de pessoas, onde é possível a comunicação e um contato inicial.

Devido à articulação em rede dos indivíduos e o nicho consumidor existente para essa demanda, muitas empresas e corporações do setor tecnológico partiram para o desenvolvimento de aplicativos semelhantes e demais meios técnicos com objetivo de promover o relacionamento humano.

O impacto dessa tecnologia no arranjo social é tão evidente que até mesmo o Ministério da Saúde utilizou o aplicativo e suas dimensões para promover uma campanha de conscientização contra a AIDS, denotando que a virtualidade é marca preponderante na contemporaneidade, mas que também pode trazer riscos à saúde, em decorrência do estímulo facilitado pelo aplicativo para relações superficiais e efêmeras e, por conta do imediatismo, muitas vezes, sem proteção.

O uso das novas tecnologias informacionais, em síntese, proporciona um impacto crescente, dimensionando novas propostas de relações humanas, tendo o suporte de ferramentas tecnológicas, a exemplo do Tinder, que possui grande aceitação no contexto brasileiro. Por fim, é preciso ressaltar a exponencial mudança de comportamento dos indivíduos e das relações humanas por eles desenvolvidas, reafirmando que a virtualidade não substitui o contato externo, mas que prioriza a interlocução e potencializa a diminuição de espaços geográficos e temporais. Dessa forma, constata-se a máxima de que a virtualidade e os seus meios técnicos alteraram de modo profícuo o comportamento humano e suas interações, bem como o modo de informar-se, comunicar-se e, sobretudo, relacionar-se.

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The information and communication technologies in
(des)construction of contemporary human relations:
implications of the use of the applicative Tinder

Abstract

The article deals with the use of Information and Comunication Technologies, in particular the digital applicative Tinder, and its relation to the behavior change of individuals and of human relations. It analyzes the implications of the use of technological tools on the search and the build of relationships and social interactions. The problem that guided the research was the following: what are the implications and risks arising from a behavioral change guided on the construction of virtual social relationships? The article unfolds in three basic areas: the first one intended to treat the use of ICT and applications; the second point corresponds to the dynamics put on the social network, whose prerogatives are based on fluid and ephemeral relationships, stereotyping, and the quest for instant gratification. The third item has the primary function of treating about the case study, id est, concerning the “Tinder” and their demands, implications and its functionality as a technological tool to build social relationships. The approach method used was the deductive, whose anchor is given on the informational and technological means to development and training of social relations, also used the monographic method of procedure or case study, basing the analysis on a specific application, legal and doctrinaire contribution.

Keywords: Tinder. Virtual relations. Information and communication technologies.

Submissão: 09/08/2015.

Aceite: 25/02/2016.

_______________

1 CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede. Rio de Janeiro: FGV, 2007, p. 43.

2 A sociedade informacional caracterizou-se pelas transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural advindos do novo paradigma tecnológico, o qual tem por bases as Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs.

BERNARDES, Marciele Berger. Democracia na Sociedade Informacional. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 38.

3 CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003, p. 109.

4 Ibidem.

5 CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede. Rio de Janeiro: FGV, 2007, p. 43.

6 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p. 168.

7 MATTELART, Armand. La mundializacíon de la comunicacíon. Trad. Orlando Carreño. Barcelona: Paidós, 1998, p. 7.

8 RANGEL, Ricardo Pedreira. Passado e futuro da era da informação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 13.

9 CAMARGO, Nelly. Comunicação de Massa: O Impasse brasileiro. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978, p. 43-44.

10 FERNANDES NETO, Guilherme. Direito da Comunicação Social. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 34.

11 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito da Internet e Sociedade da Informação. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 69.

12 RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 24.

13 Ibidem, p. 25-26.

14 BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2003, p. 67-69.

15 Ibidem, p. 67-68.

16 CANCLINI, Nestor García. Leitores, espectadores e internautas. Trad. Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008, p. 52.

17 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 22.

18 Ibidem, p. 72.

19 Ibidem, p. 26.

20 ROSA, Artmut. Accélération. Une critique social du temps. Paris: La Découverte, 2010. p. 8.

21 Idem. Aliénation et acceleration. Vers une théorie critique de la modernité tardive. Paris: La Découverte, 201. p. 200.

22 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. p. 27.

23 CANCLINI, Nestor García. Leitores, espectadores e internautas. Trad. Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008. p. 54.

24 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. p. 20.

25 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação. Economia, Sociedade e Cultura. Lisboa, v. 1, 2002.

26 JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008.

27 Uma gama de serviços e potencialidades passou a ser alvo de destinação de amplos recursos econômicos no desenvolvimento de aplicativos e ferramentas virtuais, especialmente com propósito de auxiliar os indivíduos e facilitar as condutas do quotidiano, por exemplo. Nesse concernente é possível exasperar a respeito de alguns tipos característicos, como o aplicativo “Rastreador de Namorado”, que tem por objeto ser instalado no dispositivo móvel do parceiro alvo, o qual estará sob a égide de um sistema que informa através de mensagens a localização, o histórico de ligações, gravações do que acontece ao seu redor, bem como quando o aparelho celular é desligado (Globo.com, 2013). Do mesmo, se refere a criação do software “Rethink” que tem como missão reduzir os casos de cyberbullying, a partir de uma estratégia que consiste em alertar os adolescentes sobre o conteúdo ofensivo das mensagens que eles ainda estão pensando em postar. Essa criação de uma jovem americana tem razão de ser levando-se em conta descoberta científica que afirma de que a parte do cérebro que controla a tomada de decisões e ajuda a pensar antes de agir não está completamente formada antes dos 25 anos. Assim, o “Rethink” funciona como um “anjinho bom” que sussurra nos ouvidos dos jovens que postar aquela mensagem pode não ser boa ideia.

BBC Brasil. Adolescente de 14 anos cria software para reduzir cyberbullying. Portal BBC Brasil. 21. Ago 2014. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_menina_bullying_lab>. Acesso em: 11 mar. 2015.

28 CANALTECH. Tinder registra recorde no número de usuários ativos e downloads no Brasil. Disponível em: <http://canaltech.com.br/noticia/apps/tinder-registra-recorde-no-numero-de-usuarios-ativos-e-downloads-no-brasil-55899/>. Acesso em: 10 mar. 2016.

29 ÉPOCA. Tinder o novo aplicativo de paquera. Revista Época. Globo.com., 05 Out. 2013. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/vida-util/tecnologia/noticia/2013/10/btinderb-o-novo-aplicativo-de-paquera.html>. Acesso em: 01 mar. 2015.

30 TINDER. Descrição. Google Play. Disponível em: <https://play.google.com/store/apps/details?id= com.tinder&hl=pt_BR>. Acesso em: 15 fev. 2015.

31 No mesmo contexto e aplicabilidade do Tinder outros aplicativos foram criados tendo o mesmo mote, qual seja a reunião, aproximação de pessoas e perfectibilização de relações sociais. São exemplos, o Match, Grindr, Hornet e OkCupid, Happn, “adote um cara”, dentre outros.

32 BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999, p. 21.

33 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. p. 85.

34 Ibidem, p. 55.

35 OLHAR DIGITAL. Ministério da Saúde usa Tinder em Campanha contra a AIDS. Portal UOL, 11 fev. 2015. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/noticia/ministerio-da-saude-usa-tinder-em-campanha-contra-a-aids/46766>. Acesso em: 28 fev. 2015.

36 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 21-22.

37 CREMADES, Javier. Micropoder - a força do cidadão na era digital. São Paulo: SENAC, 2009, p. 204.

38 BERNARDES, Marciele Berger. Democracia na Sociedade Informacional. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 41.

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