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Pré-natal odontológico nos postos de saúde de Passo Fundo/RS

Dental prenatal in health centers in Passo Fundo/RS

Patrícia Moreira Gonçalves(1); Queli Nunes Sonza(2)

1 Acadêmica do Curso de Odontologia da Faculdade Especializada na Área de Saúde do Rio Grande do Sul – FASURGS.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8751-1019

2 Professora da Faculdade Especializada na Área de Saúde do Rio Grande do Sul – FASURGS.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9247-3777 | E-mail: [email protected]

Resumo

Considerando a importância da saúde bucal em gestantes, este estudo pesquisou como funciona o Sistema Único de Saúde - SUS, no município de Passo Fundo - RS, na área de atendimento odontológico junto às enfermeiras responsáveis pelas unidades básicas de saúde, as quais são responsáveis pelo pré-natal. Verificou-se a realização e acompanhamento do pré-natal odontológico pelos cirurgiões dentistas com a finalidade de conhecer o tipo de informações transmitidas às gestantes sobre a importância do pré-natal odontológico, e também como os cirurgiões dentistas desenvolvem o atendimento odontológico durante o período gestacional, além de orientações em programas de atendimento coletivo. Diante disso pode-se observar que os cirurgiões dentistas que atuam nas unidades básicas de saúde da cidade de Passo Fundo - RS desenvolvem o pré-natal odontológico, porém não preconizam o atendimento coletivo com base nos programas que preveem organização de grupo de pacientes recebendo informações orientações através de palestras e outras atividades semelhantes. As conclusões apontaram que há atendimento nas unidades de saúde pública, todavia não há profissionais em número suficiente para atender a demanda e cumprir programação de atendimento preventivo coletivo.

Palavras-chave: Gestante; Odontologia Preventiva; Gravidez; Saúde Bucal; Saúde Pública.

Abstract

Considering the importance of oral health in pregnant women, this study researched how SUS works, in Passo Fundo-RS, the dental care area by the nurses responsible for the basic health units, which are responsible for prenatal It was the implementation and monitoring of dental prenatal Surgeons by dentists in order to know the type of information provided to pregnant women about the importance of dental prenatal care; as well as Dental Surgeons develop dental care during pregnancy, as well as guidelines in collective care programs. Thus it can be seen that the dentists working in primary care units in the city of Passo Fundo-RS develop dental prenatal care, but do not advocate the collective care based on the programs that predict patient group organization receiving information guidance through lectures and other similar activities. The findings showed that there is care in public health facilities, but no professionals in sufficient numbers to meet demand and fulfill collective preventive care programming.

Keywords: Pregnant woman; Preventive Dentistry; Pregnancy; Oral Health; Public Health.

Introdução

O período gestacional, pelas mudanças no organismo da gestante, influencia diretamente no desenvolvimento e no bem estar do bebê. Por esta razão, a manutenção da saúde bucal durante a gestação é indispensável para que os fatores de risco, ocasionados por falta de cuidado e frequência ao dentista possam determinar futuras doenças (1).

Echeverria e Politano (2) relatam que durante o período gestacional ocorrem alterações físicas e comportamentais, mudanças estas relacionadas ao aumento brusco dos hormônios capazes de comprometer e agravar reações inflamatórias no tecido gengival, intensificando o acúmulo de biofilme e bactérias nos dentes. No entanto, a tendência das gestantes é evitar a consulta odontológica considerando, por desinformação, que isso não é prioritário. Mesmo entre os profissionais da saúde bucalcerto despreparo para realizar procedimentos preventivos odontológicos durante o período gestacional, por receio de prejudicar o desenvolvimento da criança (3,4).

A Unidade Básica de Saúde (UBS) funciona como um centro social e possui a finalidade de promover a saúde, através de reuniões, palestras e debates para que a população seja informada e tratada quando necessário. O Programa Saúde da Família (PSF) possui a finalidade de conduzir a gestante até o final da gestação com saúde e preparada para cuidar do seu bebê quando nascer (2).

Diante do exposto, este estudo tem por objetivo associar o tipo de informações transmitidas as gestantes em 04 Cais - Centro de Atenção Integral a Saúde e em 15 PSF – Programa de Saúde da Família, do município de Passo Fundo/RS e verificar se os CDs participam do acompanhamento pré-natal, orientando, promovendo e prevenindo alterações bucais que possam vir a ocorrer durante o período gestacional, conscientizando essas mães dos problemas que podem afetar a saúde do bebê, através de questionários aplicados as enfermeiras nos respectivos locais. Essa pesquisa visa obter informações referentes a pacientes que realizam Pré-natal (PN) em UBS, que possam beneficiar-se pela prevenção e promoção da saúde da gestante e consequentemente do bebê. Duas hipóteses foram geradas; que os cirurgiões dentistas que atuam nas UBS de Passo Fundo/RS desenvolvem o pré-natal odontológico. E a outra hipótese foi de que os cirurgiões dentistas que atuam nas UBS de Passo Fundo/RS não preconizam o atendimento coletivo com base nos programas que preveem organização de grupo de gestantes recebendo informações e orientações através de palestras, entre outras atividades semelhantes.

Materiais e Métodos

Trata-se de um estudo transversal, o qual foi realizado em conformidade com as normas e os princípios éticos. O presente trabalho foi enviado ao Comitê de Ética da Universidade de Cruz Alta (Unicruz – RS), através da Plataforma Brasil, aprovado em 20/08/2014 pelo n.758.728.

A pesquisa foi realizada com as enfermeiras, pois elas são as responsáveis pelos postos de saúde de Passo Fundo - RS, e pelos agendamentos dos PN e encontra-se em período integral de funcionamentos das UBS.

O município em que foi realizada a pesquisa é Passo Fundo - RS, a qual abrange uma população de aproximadamente 200.000 habitantes. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Passo Fundo, a cidade conta com 15 PSF – Programa da Saúde da Família, sendo eles: PSF Adolfo Groth, PSF CAIC, PSF 1º Centenário, PSF Jaboticabal, PSF Lava Pés, PSF Mattos, PSF NSª Aparecida, PSF Planaltina, PSF Ricci, PSF Valinhos, PSF Zácchia, PSF Jardim América, PSF Menino Deus, PSF Donária, PSF Ivo Ferreira. Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, há oferta de dentistas em todas as unidades com cargas horárias distintas, embora não haja Estratégia de Saúde Bucal credenciada junto ao Ministério da Saúde atualmente na cidade. Há ainda 05 CAIS – Centro de Atendimento Integrado da Saúde, sendo eles: CAIS Fragomeni Dr. Luiz Fragomeni, CAIS Hípica Dr. Ervin Crussius, CAIS Boqueirão Dr. Luiz Augusto Hexsel, CAIS Petrópolis Dr. Cyrio Nacul, CAIS Luiza Dr Antônio M. Albuquerque, realizando atendimento direto, concentrando os especialistas oferecidos (Secretaria Municipal de Passo Fundo/RS).

Dos 05 Cais, 04 participaram desta pesquisa; dos 15 PSFs 08 foram pesquisados. A pesquisa não foi realizada nos locais onde não havia CDs e em outros, onde as enfermeiras responsáveis não estavam presentes no local, no horário agendado. Este estudo foi realizado em Passo Fundo/ RS, no período de Setembro de 2014. O critério de inclusão foi: Enfermeiras responsáveis pela realização do pré-natal presentes nas unidades básicas de Saúde. Os critérios de exclusão foram: Enfermeiras que não estavam presentes no seu local de trabalho na data previamente agendada; Enfermeiras que não concordaram em participar da pesquisa; Unidades básicas de saúde que não estavam em funcionamento ou não possuíam cirurgião dentista atuando.

As enfermeiras são as responsáveis pelos postos de saúde e os agendamentos dos PN, sendo assim, foi elaborado um questionário para ser aplicado as enfermeiras das unidades do SUS de Passo Fundo/RS, com perguntas basicamente relacionadas aos procedimentos e atendimentos prestados pelos CDs nessas unidades.

Após a autorização e aprovação do Comitê de Ética foi realizado contato prévio por telefone nos postos de saúde com as Enfermeiras responsáveis dos CAIS e dos PSFs para agendamento do horário para entrevista. A coleta de dados para pesquisa foi realizada por meio de visita às UBS na data programada aonde a enfermeira foi informada através de uma conversa informal sobre a pesquisa e recebeu durante a entrevista um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, constando a finalidade e o objetivo da pesquisa; e o questionário para ser preenchido. O questionário foi formulado pela autora.

Os dados foram distribuídos, após foi feito a análise da frequência. A sistematização dos dados foi realizada na plataforma SPSS e suas colunas representam a sequência normativa dos dados. Este cálculo expressa tanto pelo absoluto (número real) e (percentuais) totais relativos, como estão descritos na tabela 1.

Tabela 1. Pré-Natal Odontológico

Frequência

Percentual

Validade Percentual

Percentual Cumulativo

Validade

SIM

11

91.7

91.7

91.7

NÃO

1

8.3

8.3

100.0

Total

12

100.0

100.0

    Coluna 1: Validade das informações.

    Coluna 2: refere-se a alternativa de resposta a questões do questionário.

    Coluna 3: refere-se ao número real de pesquisados.

    Coluna 4: percentual de pesquisados mediante a frequência de respostas.

    Coluna 5: validade do peso relativo das respostas.

    Coluna 6: validade da percentagem acumulada.

Resultados

A pesquisa foi composta por 12 UBS, sendo 04 CAIS e 08 PSF do município de Passo Fundo durante o período de Setembro de 2014. Dentre as UBS avaliadas 01 PSF (Planaltina) não possuía enfermeira atuando na unidade no período em que foi agendada a coleta de informações, dentre outras UBS que atenderam aos critérios de exclusão consta de 02 PSF (Jardim América, Jaboticabal) e 01 Cais (Hípica) onde as enfermeiras não se encontravam na unidade na data previamente agendada.

Os PSFs 1º Centenário, Adolfo Groth, Ivo Ferreira, Valinhos, segundo informações prestadas durante o contato telefônico prévio nas unidades, não há profissionais CDs atuando nesses PSFs. No PSF da Santa Marta os pacientes recebem atendimento no PSF Donária. Isso ocorre, porque quando um PSF não dispõe de um tipo de atendimento, os pacientes são remanejados para outro local para não ficarem desprotegidos nas suas necessidades de saúde.

Das 12 enfermeiras participantes da pesquisa 91.7% relataram que se realiza o pré-natal odontológico na UBS e 8.3% afirmou que não é realizado o pré-natal na UBS conforme a tabela 1.

As enfermeiras entrevistadas relataram que 58.3% dos CDs participam das palestras administradas para as gestantes durante o grupo de gestante orientando sobre a importância da saúde bucal principalmente no período gestacional. Em contrapartida, 41.7% relataram que os CD não participam e nem realizam palestras em grupos de gestantes conforme o gráfico 1.

Gráfico 1. Palestras administradas pelo CD

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Com relação às orientações de higiene bucal, de prevenção e cuidados, as enfermeiras relataram que 91.7% dos CD realizam orientações individualmente às gestantes quando estas são encaminhadas para atendimento odontológico e apenas 8.3% dos CD não realizam nenhum tipo de orientação para essas pacientes conforme o gráfico 2.

Gráfico 2. Orientação odontológica

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Com relação aos procedimentos de profilaxia realizados pelos CD durante o período gestacional pode ser observado conforme o relato das enfermeiras que os dados coincidem com os resultados dos procedimentos de orientação em que 91.7% realizam profilaxia em gestantes e 8.3% não realizam esse atendimento, como demonstra o gráfico 3.

Gráfico 3. Profilaxia em gestantes

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Quanto aos procedimentos de raspagem periodontal, as enfermeiras relataram que 66.7% dos CDs realizam esse procedimento em gestante e 33,3% dos CD não realizam raspagem periodontal, algumas enfermeiras durante uma conversa informal justificaram a não realização devido ao CD, não ser periodontista. Os dados relacionados com procedimentos periodontais podem ser observados no gráfico 4.

Gráfico 4. Raspagem periodontal em gestante

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Em relação ao procedimento de exodontia em pacientes gestantes as enfermeiras afirmaram em 50% que o CD não realiza exodontia em gestantes e protelam o procedimento para após o nascimento do bebê; e 50% realizam quando necessário exodontia em pacientes gestante, conforme demonstra o gráfico 5. Durante a conversa informal algumas enfermeiras relatam a falta de aparelho de Rx e o receio da utilização de anestésicos durante o período gestacional.

Gráfico 5. Exodontia em gestantes

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Com relação ao acesso coronário (Endodontia) com presença de dor, as enfermeiras relataram que 33.3% dos CD realizam o acesso coronário em qualquer trimestre gestacional quando a gestante apresenta dor. E 66.7% dos CD não realizam o acesso coronário quando a gestante chega a UBS com queixa de dor em determinado elemento dentário que necessite de tratamento endodôntico. Os dados relacionados ao Acesso Coronário por dor podem ser observados no gráfico 6.

Gráfico 6. Acesso coronário por dor em gestantes

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Com relação ao Acesso Coronário sem dor as enfermeiras relataram durante a pesquisa que 33.3% dos CD realizam Acesso Coronário sem a presença de sintomatologia dolorosa em pacientes durante o período gestacional. 66.7% dos CD não realizam Acesso coronário sem dor em gestantes durante o período gestacional conforme é apresentado no gráfico 7.

Gráfico 7. Acesso coronário sem dor em gestantes

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Quanto ao convite da enfermeira ao CD para participar dos grupos de gestantes como promotor de orientação da saúde bucal e medidas preventivas, 75% das enfermeiras confirmam que convidam o CD para participar dos grupos de gestante, porém devido à demanda de pacientes, nem sempre é possível a participação. E 25% das enfermeiras afirmam não realizar o convite ao CD para participação dos grupos de gestantes, justificando novamente a demanda de pacientes e ou ao horário dos grupos de gestante não coincidirem com o horário em que o CD está presente na UBS. Os dados relacionados podem ser observados no gráfico 8.

Gráfico 8. Convite da enfermeira ao CD para participação dos grupos de gestantes

2727-12447-1-SP.jpg

Discussão

A participação dos cirurgiões dentistas no atendimento odontológico para gestantes nas unidades de saúde pública são muitas vezes dificultadas, pois as pacientes nem sempre conhecem as informações e orientações essenciais para essa etapa da vida produtiva da mulher (1,5).

Por esta razão, Bastiani et al. (1) e Lima (6) recomendam a execução de programas educativo-preventivos, objetivando esclarecimentos e promovendo mais segurança nos tratamentos curativos para que a saúde da criança já viesse prevenida de futuras complicações na saúde bucal.

Os resultados desta pesquisa demonstram a fragilidade do sistema de saúde, pois na realização da mesma, algumas UBS não tinham a presença de enfermeiras, em 8,3% o pré-natal odontológico não é realizado. Em contrapartida em 91,7% das UBS as enfermeiras responsáveis pelo PN afirmam que este é realizado como forma de prevenção a saúde bucal dos bebês e das gestantes. Nos relatos sobre organização de grupos de gestantes viu-se que 58.3% dos CDs são participantes das palestras orientadoras da importância da saúde bucal. Por outro lado, 41.7% relataram que os CDs não participam dessas programações.

A higiene bucal é bem encaminhada entre as unidades pesquisadas, pois 91,7% dos CDs realizam a orientação necessária, individualmente, para as pacientes. Todavia, há um percentual de 8.3% dos CDs, que não realizam. As informações e orientações essenciais são foco temático durante os atendimentos das gestantes. Como já foi visto em Junior et al. (7) é possível relacionar as doenças bucais com situações de risco às gestantes e às crianças, causando complicações.

A raspagem periodontal, se necessária, pode ser realizada na gestante. Entre os pesquisados, observou-se que a maioria dos CDs (66,7%) realiza esse procedimento. Por outro lado, outros, 33,3% entendem que não sendo especialistas em periodontia não estão aptos a realizar tal procedimento. Piscoya et al. (8), Mendonça et al. (9), descrevendo sobre a formação de bolsas periodontais explica que se trata de reservatórios virulentos, que se translocam para o feto causando consequências para uma gestação saudável.

Desse modo, as bolsas periodontais contendo bactérias ou toxinas, movimentam pelo sulco gengival e tecido conjuntivo até a corrente sanguínea. Em seguida, chegando ao útero, onde se encontra o feto em formação. Segundo Junior et al. (7), Piscoya et al. (8), esses microrganismos promovem situações inflamatórias, sendo um forte risco de nascimento prematuro.

Observando-se a descrição da ação dos microrganismos levados à corrente sanguínea, como está no parágrafo anterior, considere-se de extraordinário valor à conscientização das gestantes, a palavra de Corrêa et al. (10), que descrevem os benefícios de uma dieta saudável para os nutrientes necessários à formação do bebê. Isso começa com a higiene bucal da gestante, que consequentemente começa a formar as estruturas bucais do bebê, já no início da gravidez.

Com relação à exodontia, as enfermeiras relatam que há um cuidado mais expressivo dos CDs, em razão de evitar o uso de produto anestésico no primeiro trimestre da gestação, orientando para que seja feita após a gestação. Entre os pesquisados 50% não realizam extração no período gestacional, contudo, os demais 50% realizam, dependendo da gravidade do quadro.

O acesso coronário (Endodontia), no caso de sofrimento da gestante pela dor constante é realizado por 33.3% dos CDs, em qualquer período do primeiro trimestre e gravidez. A maioria, no entanto, 66,7% prefere outro tipo de tratamento para analgesia, protelando o acesso coronário para após a gravidez. Os mesmos índices estatísticos se dão no caso de acesso coronário assintomático. As enfermeiras relatam informalmente, que para esses casos mais complexos deveriam contar com CD especializado e em número suficiente para atender a demanda.

Embora a gestação por si só não seja responsável pelo aparecimento da doença periodontal, cárie dentária, entre outras manifestações bucais, é necessário o acompanhamento odontológico no pré-natal para identificação dos riscos à saúde bucal, tratamentos curativos e ações educativo-preventivas, em vista que a prevenção primária possui um grande potencial no controle e na redução das doenças bucais (11). A saúde bucal do bebê depende basicamente das condutas de higiene da mãe.

De acordo com Nascimento et al. (12), Reis et al. (11), Mendonça (9) qualquer tratamento de saúde bucal pode ser realizado em gestantes desde os atendimentos sejam organizados adequadamente desde o tempo da sessão até a posição da paciente na cadeira. Os autores referidos observam que no último trimestre da gestação é preferível adiar o atendimento pela proximidade do parto. De outro lado, Politano e Echeverria (2); Neto et al. (13) entendem que não se deve adiar um tratamento pré-natal, pois postergar o atendimento pode trazer maiores prejuízos ao desenvolvimento da doença, consequentemente à saúde da gestante e da própria criança.

Uma das questões mais importantes para a saúde bucal das gestantes no sistema público é o atendimento curativo imediato, que busca preservar o infante que vai nascer, mas também a promoção do cuidado preventivo contínuo. Os relatos dos pesquisados não oferecem essa possibilidade, basta ver que 75% dos CDs são convidados a participar de grupos promotores da saúde bucal, no entanto justificam questões de demanda e de horários condizentes para as reuniões. Por essas mesmas razões os relatos indicam que 25% dos pesquisados oportunizam esse tipo de trabalho.

Neto et al. (13) dizem que os CDs brasileiros que atendem gestantes no sistema público encontram dificuldades em se utilizar de procedimentos invasivos, pela preocupação com a possibilidade de ocorrem alguma fatalidade. Entendem, também, que há uma lacuna no sistema, quanto à articulação de programas de assistência pré-natal com mais qualidade.

Considerações Finais

Pode-se concluir que as duas hipóteses geradas na pesquisa foram confirmadas, ou seja: os cirurgiões dentistas das UBS pesquisadas procuram desenvolver o pré-natal odontológico individualmente; e, no segundo caso, os cirurgiões dentistas que atuam nas UBS da cidade de Passo Fundo têm dificuldades para prestar atendimento coletivo, como organização de grupos de gestantes, na maioria das vezes por falta de estrutura física e de material condizente com a necessidade. Isto denota a falta de investimentos em cursos de atualização, de especialidades e aperfeiçoamento aos profissionais da saúde na área odontológica. É necessário também, que sejam utilizados os veículos de comunicação para promover, de maneira acessível à criação de programas preventivos da saúde bucal, dando um caráter especial às gestantes sobre a importância do pré-natal odontológico, pois muitas vezes as gestantes evitam atendimento odontológico por medo e desinformação.

As informações prestadas as gestantes nas UBS são basicamente relacionadas à importância da higiene bucal, e correta escovação. Observou-se que existe uma tendência das gestantes em evitar o tratamento odontológico preventivo, e procurar apenas o atendimento curativo. Os CD realizam atendimento individual, mas os horários de atendimento dos odontólogos de algumas UBS são incompatíveis com os horários em que a gestante realiza o pré-natal.

Por fim, cabe dizer, que a validade deste estudo, mesmo que seja uma abordagem direcionada à gestante, mostra uma realidade vivenciada em todas as UBS que foram objeto desta pesquisa. Considera-se, também, de alta propriedade para as ciências, que estudos como estes sejam promovidos com frequência, pois através deles se pode conhecer melhor a prática corrente dos odontólogos em relação a um tema tão relevante para a saúde pública.

Referências

  1. 1. Bastiani C, Cota ALS, Provenzano MGA, Fracasso MLC, Rios D. Conhecimento das gestantes sobre alterações bucais e tratamento odontológico durante a gestação. Odontol Clín Cient. 2010;9,155-160.
  2. 2. Echeverria S, Politano GT. Tratamento Odontológico para Gestantes. Ed Santos. São Paulo, 2014.
  3. 3. Scavuzzi AIF, Rocha MCBS, Vianna MIP. Percepção sobre atenção odontológica na gravidez. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 1998;1,43-9.
  4. 4. Garbin CAS, Sumida DH, Santos RR, Chehoud KA, Moimaz SAS. Saúde coletiva: promoção da saúde bucal na gravidez. Rev Odontol UNESP. 2011;29,161-165.
  5. 5. Peixoto CR, Freitas LV, Teles LMR, Campos FC, Paula PF, Damasceno AKC. O pré-natal na atenção primária: o ponto de partida para reorganização da assistência obstétrica. Rev Enferm UERJ. 2011;19,286-91.
  6. 6. LIMA DEG. Assistência Odontológica na gestação: Revisão da Literatura. 2012. Monografia (Graduação em Odontologia) – Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.
  7. 7. Junior RP, Nomura ML, Politano GT. Doença periodontal e complicações obstétricas: há relação de risco? Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29,372-7.
  8. 8. Piscoya MDBV, Ximenes RAA, Silva GM, et al. Periodontitis-associated risk factors in pregnant women. Clinics. 2012;67,27-33.
  9. 9. Mendonça JCR. As influências da condição periodontal na gestante. Rev Odontol Planalto Central. 2010;1,15-20.
  10. 10. Corrêa MSN, Dissenha RMS, Weffort SYK. Saúde Bucal do Bebê ao Adolescente. Guia de orientação para a gestante, Pais, Profissionais da Saúde e Educadores. São Paulo: Santos, 2011.
  11. 11. Reis DM, Pitta DR, Ferreira HMB, et al. Educação em saúde como estratégia de promoção de saúde bucal em gestantes. Ciênc Saúde Coletiva. 2010;15,269-276.
  12. 12. Nascimento, EP, Andrade FS, Costa AMDD, et al. Gestantes frente ao tratamento odontológico. Rev Bras Odontol. 2012;69,125-30.
  13. 13. Neto ETS, Oliveira AE, Zandonade E, Leal MC, et al. Acesso à assistência odontológica no acompanhamento pré-natal. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17,3057-68.

Journal of Oral Investigations, Passo Fundo, vol. 7, n. 2, p. 20-32, Jul.-Dez., 2018 - ISSN 2238-510X

[Recebido: Maio 22, 2018; Aceito: Maio 23, 2018]

DOI: https://doi.org/10.18256/2238-510X.2018.v7i2.2727

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Queli Nunes Sonza

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